“saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.” (João 19:18)
A partir do início da década de 80, a defesa de direitos humanos de prisioneiros comuns passou a ser associada pela maioria da população paulistana à defesa de ;privilégios para bandidos; (Caldeira, Teresa Pires do Rio. Direitos humanos ou ´privilégios de bandidos`. Novos Estudos Cebrap, n. 30, 1991, pp. 162-74). A partir desta década a máxima “bandido bom é bandido morto” tem sido usada. Por trás da afirmação há o sentimento de impotência da população e de incompetência do estado, daí para frente a solução passa pela eliminação abrupta do problema com a morte do bandido.
De lá para cá, não mudou nada para a melhor; ao contrário, aumentou a inação do poder público na proteção da população, pois o que se observa é um agravamento das condições de segurança, o desaparelhamento das forças policiais com o aparelhamento e surgimento de grupos milicianos fortemente armados, o surgimento de poderes paralelos no lugar do estado, a corrupção das forças policiais, etc. Some-se a isso a falta de segurança e esperança no poder que deve julgar, que ao contrário do que se espera parece agir de mãos dadas com a injustiça.
Tudo isso junto leva à argumentação de que pra resolver o problema é só eliminar o bandido.
Mas não parece que Jesus pensa desta forma. O sentimento de injustiça cometida com Jesus pelos líderes judaicos, pelo poder romano e pela população que apoiou o ato de crucificação de Jesus, não muda a perspectiva de que, não obstante operasse a injustiça através de uma condenação sem o devido cumprimento dos requisitos legais, pois a mesma não subsistiria, era necessário que Jesus morresse na cruz. Mas ao seu lado, naquele ato de entrega do próprio Jesus, há dois outros crucificados, ladrões devidamente reconhecidos e que já esperavam aquele momento.
No evangelho de João não é relatado com detalhes a reação dos ladrões ao lado de Jesus. Mas nos outros evangelhos é possível ver que eles mesmos reconheciam o merecimento deles de estarem ali e não o de Jesus (Lc 23:41), e que o fato se dava como cumprimento das Escrituras (Mc 15:28). Também não há relatos de Jesus condenando aqueles homens, mas Jesus está ali pronto para trazer perdão, pelo menos para um deles. Jesus sabia que a condição de afastamento de Deus leva o homem à condenação e sua vinda foi exatamente para mudar isto. Para ele, bandido bom não era ´bandido morto`, pois a condição final do homem será a pior possível, mas, sim, ´bandido salvo`.
Talvez as condições de injustiça a que estamos submetidos nos levem a pensar que a melhor forma de resolver o problema é eliminando o indivíduo agressor. Mas a morte de Jesus na cruz não foi porque nós somos melhores que qualquer outro agressor da lei, mas porque o pecado trouxe o homem à rebelião contra Deus e a penalidade disto é a morte. Assim, cada um de nós deveria estar ali também naquela cruz, pois não somos melhores que aqueles ladrões! Por outro lado, onde a injustiça opera a graça de Deus superabunda e por intermédio desta graça é que as transformações de vida podem acontecer. É possível um bandido ser recuperado? Eu acredito que sim, mas somente pela graça e misericórdia de Deus, que usa de vários meios e pessoas para que isso aconteça. Portanto, o anúncio do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é que de fato vai trazer as mudanças verdadeiras e relacionadas ao preenchimento da real necessidade do homem. Antes de pensarmos na resolução do problema pela via da eliminação, que tal anunciarmos o evangelho e pensar que “bandido bom é bandido salvo”?