“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (João 17:15)
Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno (I Jo 5:19). Assim João, o apóstolo amado, termina sua primeira carta. Eu acho que, como num filme, ele lembra das palavras do Mestre em sua última oração com os discípulos. João sabe na prática o significado do pedido de Jesus ao Pai: guarde-os do mal. Em algumas traduções aparece como guarde-os do Maligno. Com este sentido, o texto se aproxima mais da conclusão de João de que o mundo jaz no Maligno. Agora, por que Jesus pede para que os discípulos sejam guardados do mal? Não seria melhor que eles não passassem por tudo o que vieram a passar? E, o que há de tão
mal no mundo que precisamos ser guardados?
O Espírito Santo é nossa garantia, nosso selo de qualidade, de pertencimento, de que somos de Deus. Isto é um fato! Além disso, este mundo está morto, nos braços do Maligno. Outro fato! Parece que há duas ideias opostas aqui. Uma é que há os que pertencem a Deus e os que pertencem a este mundo caído, que jaz no Maligno. Jesus ora especificamente pelos primeiros, os que pertencem a Deus, pedindo que Deus mesmo os guarde do mal ou do
maligno, o príncipe deste século. Mas de que mal Jesus pede que seus discípulos sejam livrados? Cabe lembrar que além dos discípulos que ali estavam e que passariam por maus bocados, Jesus inclui também, numa visão de futuro próximo e distante, todos aqueles que viriam a crer nEle.
Um olhar detalhado da história da Igreja dá a possibilidade de observar quanto de cumprimento desta oração já aconteceu. Prova disso é que a Igreja do Senhor permanece firme, pois, ao contrário do mundo, não jaz no Maligno, mas tem seu fundamento alicerçado na Rocha, que é Cristo. Mas de lá para cá, muita coisa já mudou, inclusive a própria aparência do mal, fazendo com que, não o fundamento, mas o assentamento sobre outras bases tenham sido feitas. Houve (e ainda há!) de alguma forma um amoldamento, às vezes sutil, ao mundo.
Há sutilezas que não podemos deixar de lado, pois Jesus enfatiza pedindo que Deus nos guarde delas.
Nesta perspectiva, o que caracteriza o mundo hodierno? Vivemos num mundo em reestruturação. Esse é exatamente o que move e o que se entende por pós-modernidade. A linguagem define tudo e é considerada como a chama da verdade. O problema é que com isso estamos largados às fakenews, às pós-verdades. A estética toma o lugar da ética, a aparência é mais importante, por isso estamos dados à aceitação social do misticismo, dos movimentos de gênero e identidade, da moda eclética. É como disse um escritor desse tempo, a sociedade é
uma ‘sociedade líquida’. Não há solidez em que se possa apoiar, pois os fundamentos foram tirados. Estamos num mundo em queda, num abismo sem fundo e não há como se chegar ao fundo do poço, pois não há fundo!
Cremos na onipotência de nosso Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, quando Ele pede ao Pai que Ele nos guarde do mal é exatamente disto que Ele pede que sejamos livrados. A Igreja de nosso Senhor não pode sucumbir a este mundo liquefeito, que não possui fundamentos. Flertar com o que está posto é um risco muito grande e sabendo disto é que Jesus continua, através de sua palavra, pedindo que os seus sejam guardados. Não vamos sair deste mundo até que chegue nossa hora, por isso, o que nos cabe é saber que devemos viver aqui para glorificar a Deus e estar firmado no fundamento que pode nos manter firmes sob as intempéries da vida. Não ao relativismo, ao pluralismo, ao conformismo, à idolatria, mas ‘Sim’ ao que é correto, à verdade, ao único e verdadeiro Deus, ao nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, que não tardará a voltar para nos livrar completamente deste mundo. Mas enquanto isso não acontece, o que peço é ‘livrai-nos do mal’!