“E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos.” (João 18:2)
Um jardim é palco para acontecer muitas coisas. Parece que João quer nos remeter à lembrança do que aconteceu lá no primeiro jardim – o Éden. Foi lá onde começou a primeira traição e de lá para cá, não há um dia sequer que ela não aconteça. João não se preocupa em dar nome ao jardim, usa apenas o artigo indefinido, pois em qualquer jardim a mesma cena continua se repetindo. No primeiro jardim, o primeiro homem trai o Deus-criador. Neste jardim, o Deus-homem é traído.
Segundo o dicionário on line de português, o traidor é aquele “que oferece perigo, mas não demonstra ou aparenta”. Para os discípulos, Judas era só alguém suspeito de estar roubando dinheiro do cofre. Mas para Jesus, Judas seria aquele que o trairia. Era o que entregaria a ovelha para o matadouro. Jesus já havia anunciado esse fato depois de lhe lavar os pés e partilharem da última refeição. O traidor é aquele que não levanta suspeitas, que conhece a intimidade de quem vai trair.
Jesus escolhe o jardim que o traidor conhecia bem, pois estivera lá com ele várias outras vezes. Ele não foge do que estar por vir, pois sabe que precisa resolver de uma vez por todas o que foi começado no primeiro jardim. Por outro lado, o traidor age por não ter, até então, conhecido verdadeiramente quem ele traía. É muito provável que as expectativas que ele depositou em Jesus não tenham sido atingidas, estava disposto a recuperar aqueles três anos por 30 moedas de prata. Um preço irrisório pela vida que estava sendo entregue. Não que uma vida, de quem quer que seja, possa ser estipulado um valor.
A traição de Judas não estava fora dos planos de nosso Senhor. Ele já sabia muito bem o que aconteceria e agora antevia que a hora desse acontecimento se aproximava. O silêncio do jardim, que não fora quebrado pelo ronco dos discípulos ou pelo choro do Mestre, é quebrado agora pelas pisadas do traidor. No primeiro jardim, o homem traiu em silêncio e fugiu do Criador, mas aqui o traidor, que já traiu em seu coração, vai em direção ao Criador para
confrontá-lo e entregá-lo. O pecado começado no primeiro jardim faz com que o pecador confronte o Criador, até que ele seja completamente dominado pela Graça e sinta-se completamente humilhado.
Judas deliberadamente escolheu aquela situação. Ele a negociou, planejou os detalhes. Escolheu, a seu ver, a melhor hora. Armou-se para que nada saísse errado. O que ele não esperava é que “o traído” já o estivesse aguardando. A calma e tranquilidade aparentes de nosso Senhor faz com ele e seus comparsas caiam por terra. Diante de nosso Deus, não há quem fique de pé e o confronto com Ele só permite duas situações, ou a rendição ou a oposição desenfreada. Judas escolheu deliberadamente esta última e como consequência só lhe coube o sofrimento e a morte.
Mas uma coisa não se pode deixar passar desapercebida em nossa mente, que a traição não se configura somente como um ato do tipo praticado por Judas. Mas em todos os casos ela é uma agressão a Deus e é remetida como uma consequência do que o primeiro homem fez. Qualquer que seja a traição só pode ser resolvida aos pés da cruz. O desserviço de Judas levou nosso Senhor à cruz, mas não se engane, ele não está só nisto. Ele tem a parcela dele de culpa e cada um tem a sua. A questão é como reconhecemos o que fazemos contra Deus. Não devemos esquecer que os traidores são os que provam da intimidade também. Mas, os que
são do nosso Senhor já estão crucificados com Cristo, já estão mortos para o pecado e vivos para Deus, já não permitem que o pecado reine sobre ele, e nem se oferecem a ele como escravos, pois já experimentam da vitória sobre o pecado pela morte, do que foi traído, na cruz. Aleluia!