Pense comigo uma situação hipotética. Um educador canadense chega ao Brasil para o ministério de Educação Cristã em uma determinada igreja. Como ele vai construir uma equipe que trabalhe com ele? Por onde deve começar? Que situações previsíveis ele vai enfrentar na convivência com as pessoas? Pensando nessa situação que é semelhante a muitos de nós ao chegarmos em determinado ministério, gostaria de refletir sobre como envolver, motivar e minimizar os conflitos com as pessoas para alavancarmos um novo projeto.
O que é gestão de pessoas?
Nas minhas pesquisas encontrei que Gestão de Pessoas é o processo de treinamento, motivação e orientação dos colaboradores, a fim de otimizar a produtividade no local de trabalho e promover o desenvolvimento de novas competências nas pessoas; é também impulsionar o engajamento dos colaboradores com a missão da instituição.(1)
Mas, primeiramente, vamos reconhecer que os membros das igrejas estão vivendo diferentes experiências de gestão em seus locais de trabalho, seja no sistema público ou no privado. Tais experiências são trazidas por eles para o seio da igreja.
De maneira geral, a gestão brasileira de empresas vive um período de transição (da pré-globalização para a pós-globalização), mas o que é mais marcante é que muitas pessoas estão sendo formadas nas empresas para integrarem a sua missão pessoal e profissional à missão da instituição onde trabalham. É a busca pela fidelização dos talentos à organização.
As instituições brasileiras vivem um mix de modelos importados (globalizados) e a cultura local de organização, o que, segundo pesquisadores, traz um pouco de lentidão para alcançarmos os resultados das organizações do primeiro mundo. Os especialistas que lidam com essa situação nos alertam para alguns desafios na Gestão de Pessoas. (2)
- O velho paradigma de controlar pessoas não é a melhor abordagem para conquistar os colaboradores para um projeto, pois não é mais possível ter um engajamento positivo dos voluntários num ambiente inflexível;
- Não pense mais na organização como uma “máquina”, onde tudo funciona de forma “eficiente”, rotineira, burocrática, ou seja, para alcançar a eficiência opera com uma rígida divisão de tarefas, hierarquias, regras detalhadas e regulamentos de controle;(3)
- Nem todas as organizações estão de prontidão para mudanças, muitas vezes é necessário, primeiro, conhecer e ajustar-se à cultura local para depois convencê-los das necessidades transformacionais;
- Não se pensa mais em recrutar uma pessoa para assumir determinada vaga na instituição, mas buscam pessoas que tenham múltiplas competências, capazes de agir em diferentes frentes;
- Os gestores também devem ser capazes de dar liberdade e oferecer ambiente fértil à criatividade de seus liderados
Diante desses poucos tópicos de gestão de pessoas, não seria importante que o educador cristão estrangeiro considerasse esses quesitos ao trabalhar em uma nova cultura? Vejamos:
- Também em Educação Cristã o ministério não pode ser reduzido a um programa rígido com regras meramente técnicas de ingresso e exclusão, com currículo imposto (muitas vezes importado de outra cultura) não condizente com a realidade local, com programas bonitos plasticamente, porém sem efetividade nos resultados;
- O Educador cristão precisa ainda conquistar as pessoas através do envolvimento delas na construção da proposta educacional da igreja, ouvindo todos os segmentos e criando ambiente para que todos participem com criatividade e inovação;
- O Educador cristão precisa estar atento à realidade da cultura brasileira e suas características: o jeitinho brasileiro; o “você sabe há quanto tempo estou nesta igreja”?; a capacidade de adaptação a diferentes carências; a facilidade em valorizar práticas estrangeiras em detrimento das nossas locais; a amizade que resolve “tudo”; e o excesso de regras para mostrar organização (superficialismo).(2) Embora alguns desses pontos estejam em transformação, haverá o constante desafio de trabalhar educacionalmente os aspectos que emperram o desenvolvimento e valorizar os que nos impulsionam.
- Ao buscar uma equipe de trabalho e inúmeros colaboradores para diversas áreas centrais e periféricas do Ministério de Educação Cristã, o educador precisa, antes, ensinar os membros a descobrirem seus dons espirituais, a desenvolverem suas diferentes habilidades e competências e a colocarem seus saberes à disposição do Mestre Jesus. Cabe ainda, ao gestor, o desenvolvimento de novas competências nas pessoas, bem como educá-las para compreenderem a interligação entre sua missão pessoal e a missão da igreja.
- Empoderar as pessoas para a autonomia no seu trabalho é o mesmo que engajá-las positivamente e fazer com que se sintam apaixonadas pelo trabalho que realizam.
Sendo assim, nosso educador estrangeiro tem bastante trabalho à frente, pesquisa a fazer, reflexões a compartilhar e ouvidos para ouvir. Deus nos abençoe!
BIBLIOGRAFIA
- https://blog.anhanguera.com/gestao-de-pessoas/?gclid=EAIaIQobChMIzYmqr6CC8wIVigeRCh1gngJqEAAYAiAAEgJrMfD_BwE
- CHU, Rebeca Alves; WOOD JR., Thomaz. Cultura organizacional brasileira pós-globalização: global ou local? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 42, n. 5, p. 969-991, set./out. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n5/a08v42n5.pdf.
- MORGAN, Gareth. Images of organizations. 2nd ed. California, USA, Sage Publications, inc., 1997.
1 Comment
Gostei muito” e aprendo tbm com.este esclarecimento. Obg