“E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena.” (João 19:25)
Só quem passa pela morte de um filho é que entende a dor do sofrimento que carrega! 23 de janeiro de 2013, 233 jovens morrem após incêndio em uma boate em Santa Maria/RS. 25 de janeiro de 2019, após o rompimento de uma barragem da Vale, morrem mais de 230 pessoas, entre as quais várias crianças e jovens. 08 de fevereiro de 2019, morrem 10 jovens entre 14 e 16 anos num incêndio durante a madrugada em um alojamento do Clube do Flamengo. 13 de março de 2019, num ataque em uma escola em Suzano, 7 jovens entre 15 e 25 anos são
mortos, entre os quais os dois atiradores. Estes são, dentre muitos outros, casos de tragédias que ocorrem diariamente! Os pais não deveriam enterrar seus filhos!
Ali está Maria, ao pé da cruz. Chora a morte do filho mais velho. Viu-o crescer, tornar-se homem e agora o vê morrer de forma trágica. Condenado num processo juridicamente eivado de vícios. Não se sustentariam as acusações, não há apuração, não há testemunhas ouvidas, mas há uma decisão do coração de um traidor, de uma liderança religiosa, de um governador injusto, medroso e que não se valeu de sua autoridade para fazer o certo e de soldados igualmente corruptos. Os pais não deveriam enterrar seus filhos!
Maria de alguma forma já aguardava o sofrimento, mas quando ele chega é que a dor é sentida de fato. Ela já fora alertada antes, quando da consagração de Jesus, que o destino do menino seria a morte (Lc 2:34,35). Maria, porém, guardava todas as coisas no coração (Lc 2:51), aguardando o dia em que tudo se consumaria. Entretanto, se fosse possível daria a vida pelo filho, estava pronta para isso e acompanha o sofrimento do filho ao pé da cruz. Há um compromisso velado de proteger o filho sempre, pois assim é o amor de mãe por seu filho. Mas, há uma limitação de sua parte que ela não pode ultrapassar. Os pais não deveriam enterrar seus filhos!
O jovem galileu morre injustamente, paga por erros que não são seus. Entrega-se a um julgamento injusto. Apesar da culpa de todos os envolvidos, o jovem galileu precisa estar ali, exatamente naquele dia e horário, pois sua morte tem um bem maior. Ele toma o meu e seu lugar! Onde nós deveríamos estar, ele assumiu nosso lugar. Sofre a nossa dor, paga pelos nossos pecados. Poderia ter fugido, teve oportunidade, mas o pacto eterno firmado com o Pai, não o deixou fazê-lo. Ao contrário, entregou-se voluntariamente, sabendo que o que o aguardava era exatamente o que se concretizava ali na cruz. Agora o Pai o vê na agonia da cruz e se ausenta de sua presença. Os pais não deveriam enterrar seus filhos!
Apesar da cena trágica e ao mesmo tempo necessária, há algo de belo. Há o amor de mãe externado no seu extremo, mas há também o amor de um filho. No cuidado eterno, toma o lugar da mãe, que deveria estar naquela cruz, assim como cada um que ali estava, mas no cuidado familiar, terreno, também não abandona a mãe, sofre por ela e cuida do seu futuro, pede ao primo que lhe devote o amor que é visto ali na cruz e que cuide da mãe por ele. O filho, mesmo no momento da dor, deve velar pelos pais! Jesus como o filho de Maria faz seu último ato de cuidado, depois disso, na agonia da cruz declara que tudo está consumado. Entregou sua vida, pois o sacrifício de estar na cruz bastou para o nosso perdão, bastou para satisfazer a dívida com o Pai. Espiritual ou terreno, agora tudo estava pago. Maria permaneceria ali chorando o filho, como lhe era conveniente. A dor não lhe seria menor, até que entendesse a grandeza do que se cumpria ali. Os pais não deveriam enterrar seus filhos!