“Procura visitar-me em breve, pois Demas, por amar este mundo, abandonou-me. Ele partiu para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia; Tito, para a Dalmácia; só Lucas está comigo. Toma a Marcos e traze-o contigo, pois ele me é muito útil para o ministério. […] Quando vieres, traze-me a capa que deixei em Trôade, na casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos”.
(2Timóteo 4.9-11;13)
Paulo escreve esta epístola em condições bastante precárias, preso em Roma entre os anos 66 ou 67 e sob duras condições carcerárias, escreve “Lembra-te de Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos, descendente de Davi, de acordo com o meu evangelho, pelo qual sofro a ponto de ser preso como criminoso; mas a palavra de Deus não está presa”. (2Timóteo 2.8-9). Vivendo e morrendo como um soldado que dá sua vida pela causa e sabendo que o tempo da sua partida era chegado, afirmou a consumação de todo o propósito da sua carreira cristã “Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé”. (2Tm 4.7).
Nestes momentos finais, tendo sido abandonado pelos homens, afirma que não foi abandonado por Deus “Mas o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por meu intermédio a pregação fosse anunciada e todos os gentios a ouvissem; e fui livrado da boca do leão. O Senhor me livrará de toda obra má e me levará a salvo para o seu reino celestial. A ele seja a glória para todo o sempre. Amém” (2Tm 4.17-18). Se fôssemos definir Paulo, com certeza os adjetivos, decidido, forte, independente seriam listados, pois o apóstolo queria “servir ao Senhor sem distração alguma” (1Coríntios 7.35).
Esta visão autossuficiente de Paulo pode parecer contraditória com os versículos em destaque acima, onde o apóstolo expõe com franqueza o seu lado mais fragilizado, mas, ao contrário, ele nos faz compreender que ninguém é totalmente autônomo, pois somos todos membros de um mesmo corpo e devemos andar em união. Paulo nos faz entender a importância de uma rede de apoio pessoal, tanto na Igreja, na família e nas relações seculares e ainda nos ensina que devemos ser francos em expor nossos sentimentos e necessidades.
“[…] há amigo mais chegado que um irmão”, atesta Provérbios 18.24 e era deles que Paulo sentia falta. Recebi do Pastor Sênior um oportuno artigo “Por que amigos prolongam nossas vidas”, (link https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce98r0mvq78o) fundamentando a importância dos laços sociais para a longevidade, saúde física e emocional e os males da solidão.
Ponderamos sobre o quanto mais poderia ser feito em nossas Igrejas se cada salvo assumisse de forma continuada um posto, uma responsabilidade! Louvamos a Deus pelo belo e valoroso servir ministerial que tem sido feito por membros que assumem firmemente a sua função, ano após ano, superando suas próprias dificuldades para cumprir a obra do Senhor, mas outros omissos se contentam em ajudar esporadicamente, sem experimentar a alegria de ser útil.
Paulo faz um rol de mérito ou demérito, onde exalta os que o apoiaram e se suscetibilizaram. Onde estaríamos no rol do apóstolo? Entre os que apoiam e permanecem, ou contados com os circunstanciais? Ele roga de forma objetiva “procura vir ter comigo depressa” e pede socorro nestes momentos finais. Pede ainda sua capa, seus livros e pergaminhos pois não se permitia terminar seus dias de forma ociosa, mas sim ativa.
Muitas vezes queremos receber auxílio e cobramos ajuda dos outros, mas o apoio que temos dado é o que gostaríamos de receber? Que Deus nos permita glorificar como Paulo: “Desde agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que amarem a sua vinda” (2Tm 4.8).