“De novo, Jesus lhes falava: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.(João 8:12)
Ouvi uma “história” (não sei se verdadeira!) que diz ter acontecido num aeroporto brasileiro. Os passageiros estavam numa fila à espera e, como de costume, a demora era medonha. Eis que se insurge um passageiro dentre os outros, vai até a moça do guichê, reclama com veemência e discute com a mesma. Esta só lamenta e diz, como de costume, que o mesmo deveria esperar a vez dele. Bastante irritado questiona o passageiro: “você sabe quem eu sou, com quem você está falando?”, ao que se levanta a moça e em voz alta pergunta aos presentes: “alguém conhece esse senhor, porque ele não sabe quem ele é!”. Enfurecido o passageiro retorna ao seu local na fila.
É cômica! Mas ao mesmo tempo essa “história” faz uma revelação surpreendente de que o que nós consideramos quem somos tem uma estreita relação com a situação ou circunstância a que estamos submetidos. Por exemplo, hoje sou rico, amanhã já não mais; hoje sou forte, elegante, confiante, trabalhador, rigoroso, amador, profissional, presidente, delinquente, pai, mãe, etc., mas amanhã, talvez, não mais! Tudo isso fala de qualificação, mas não, de fato, de quem verdadeiramente somos, não fala da nossa natureza.
Pois bem, a expressão “Eu Sou” que Jesus usa aqui e em outros textos, não fala tanto de qualificação quanto fala de sua própria natureza ou essência. João desde o início de seu evangelho tenta mostrar com muita clareza quem Jesus de fato é. Ele já começa identificando-o, em sua essência, com o próprio Deus (Jo 1:1), mas ao mesmo tempo distinto, em pessoa, dEle. Na verdade, essa é a tônica que permeia todo o livro, mostrar a deidade do Cristo, revelado como o homem Jesus (Jo 4:25,26). A descrição dada a Jesus é feita como Ele sendo “o pão da vida” (Jo 6:35), “a porta das ovelhas” (Jo 10:7), “o bom pastor” (Jo 10:11), “a ressurreição e a vida” (Jo 11:25), “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6), “a videira verdadeira” (Jo 15:1).
Jesus usa a mesma expressão que Deus dá de si mesmo a Moisés, quando este questiona sobre quem o estava enviando ao povo: “EU SOU O QUE SOU”. Nada mais precisaria ser dito, pois no “Eu Sou” está concentrado toda a essência da divindade. Jesus é a exata expressão do Ser de Deus (Hb 1:3). Não há distinção, em essência, de quem Ele é e de quem Deus é! O interessante nisto tudo é que o “estar em Cristo” nos remete à situação de dia-a-dia nos assemelharmos ao Jesus homem. Ou seja, Ele é nosso modelo e a quem devemos nos parecer cada vez mais. Ao mesmo tempo somos alertados de que não devemos pensar de nós mesmos mais do que realmente somos (“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém”, Rm 12:3). Em sendo assim, talvez nunca precisaremos usar a expressão comumente proferida: “sabe com quem está falando?”, pois ela denota não quem somos, mas qualifica o que não devemos ser! Que em nós seja Cristo reconhecido!