“Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.” (João 11:9,10)
Ainda lembro, com um certo saudosismo, das partidas de futebol jogadas na rua. Era um espaço pequeno, pois a rua, em ambos os sentidos, era inclinada e jogávamos num platô, que devido ao processo erosivo de ambos os lados da rua formava uma camada de barro que cobria o calçamento e evitava o esfolamento dos dedos numa pedra fortuita. No entanto, isso não era algo difícil de acontecer, pois as vezes havia uma pedra descoberta e o risco iminente de encontrá-la era certo, principalmente quando brincávamos à noite. Naquela época tal feito
ainda era possível!
Neste texto, é interessante a forma de abordagem de Jesus ao dar uma resposta aos discípulos, os quais estavam carregados de medo e ansiedade. Apesar de tudo que acabara de acontecer, com a cúpula judaica tentando prender Jesus, Ele fala novamente de regressar para próximo do foco de perseguição. Jesus não está preocupado com isso e ensina seus discípulos a confiarem nele e prepara-os para o que eles veriam, a manifestação da glória de Deus nEle. O foco não é a perseguição, mas o Senhor Jesus que está pronto para suportá-la. O que os discípulos não conseguem perceber é que nada acontecerá até que chegue a sua hora (Jo 7:30; 8:20; 13:1). Legal essa percepção do momento certo!
Por outro lado, Jesus conforta seus discípulos que estando com Ele, eles estariam seguros porque não andariam tateando no escuro. Não precisavam estar com medo ou ansiosos. Andar com o Mestre é não errar o caminho porque Ele é o caminho. É não andar em trevas porque Ele é a luz. É andar de dia, sem tropeçar, porque Ele é a luz do mundo. Essa perspectiva de Jesus “ser a luz”, vem sendo dita aos discípulos por toda a caminhada com o Mestre. João, desde o prólogo de seu evangelho, vem dizendo que Jesus é a luz. Isso tem um grande significado para os judeus, que aguardavam em trevas o raiar da luz (Is 9:2).
Mas a visão da luz não é somente para os judeus, é para nós hoje. Cristo ainda brilha em nosso meio e nos ajuda a caminhar, por mais escuro que pareça ser o caminho. O melhor de tudo é que Ele sabe não apenas o caminho que vamos seguir, mas sabe também o que nos aguarda na caminhada. Jesus sabia o que enfrentaria e que o final do caminho o levaria à morte, mas sabia também que venceria a morte que assola, amedronta e destrói a humanidade.
Além de brilhar entre nós, Cristo bilha em nós. Nós somos os que transportamos a luz neste mundo. Isso ainda é muito mais legal! Ao voltar para o Pai, Jesus incumbiu-nos de não deixar o mundo às escuras. Devemos brilhar a luz de Cristo e mostrar o caminho às pessoas. Mas como fazemos isso? O Senhor Jesus nos dá uma dica. Ele diz num de seus importantes discursos que “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16). Mas ainda fica a pergunta, “assim
como”? E Ele mesmo responde, não escondendo a luz, mas revelando-a a todos. E de que forma? Ele também responde: ‘sendo humildes’, ‘chorando com os que choram’, ‘rejeitando a violência’, ‘procurando sempre a justiça’, ‘agindo com misericórdia’, ‘agindo com sinceridade’, ‘procurando a paz’ e ‘propagando a justiça’. Taí, é nestes que está a luz!, e se andarem de noite, por mais escura que seja, não tropeçam porque carregam em si mesmos a verdadeira luz.