Refletindo sobre “a pedagogia da relação”, é interessante notar como, depois de algumas décadas de vida, a teoria de Paulo Freire suscita interesse exatamente pela noção de diálogo. Acredito que isso responde a uma genuína necessidade que o ser humano sente neste momento da história de se aproximar do outro, seja o ser humano, a natureza ou o transcendente. Edgar Morin traduz esta necessidade no contexto de sua proposta de criar uma sociedade, uma comunidade de relações, com as seguintes palavras:
“Esta nova etapa só poderá ser alcançada revolucionando em toda parte as relações entre humanos, desde as relações consigo mesmo, com o outro e com os próximos, até as relações entre as nações e Estados e as relações entre os homens e a sociedade, entre os homens e o conhecimento, entre os homens e a natureza”. (MORIN, 2003, p. 106).
Também Leonardo Boff, referindo-se à relação com o transcendente, diz que:
As pessoas querem experimentar Deus, se aproximar de Deus. Estão fatigadas de ouvir catequeses, de escutar autoridades religiosas falarem sobre Deus e dos teólogos atualizarem as doutrinas da tradição. Testemunhamos hoje a experiência de Jó, que se queixava: falei de coisas que não entendia, de maravilhas que ultrapassam minha compreensão. Conhecia-te. Ó Deus, só de ouvido; mas agora viram-te meus olhos” (Jó 42.3-5). (BOFF, 2008, p. 62).
Ao contrário do que possa parecer, uma pedagogia da relação não é contrária ao processo midiático. A informática abre enormes possibilidades para uma educação relacional. Isso significa, entre outras coisas, que o professor que se vê simplesmente como repassador de informações talvez esteja com os seus dias contados. Tanto a “ESCOLA” no âmbito secular, quanto a nossa “EBD” pode agora começar a se pensar muito mais como um lugar que privilegia a qualidade das relações do que um mero conhecimento passado de forma expositiva. Isso será uma coisa que os programas interativos, que parte das crianças talvez venha a ter à disposição em casa ou em outros lugares, por mais sofisticados que sejam, não poderão fazer.
Henri Wallon, considerado o pai da afetividade expressa: “A dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento”. Para ele, a emoção, uma das dimensões da Afetividade, é instrumento de sobrevivência inerente ao homem, é “fundamentalmente social” e “constitui também uma conduta com profundas raízes na vida orgânica”. (DANTAS, 1992, pág.85)
E refletindo sobre o nosso mestre Jesus, a proposta dEle sempre foi permeada por relacionamentos significativos e fidedignos. A afetividade no processo de relacionamentos saudáveis é salutar para a construção do conhecimento. Como Jesus conseguia mobilizar a tantos e difundir por vários lugares e através de séculos o que Ele queria ensinar?
Referências Bibliográficas
BÍBLIA. Nova Versão Internacional (NVI). São Paulo. Editora Vida, 2007.
BOFF. L. Ecologia, Mundialização, Espiritualidade. Rio de Janeiro: Record, 2008
DANTAS, H. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
MORIN, E. Terra-Pátria. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.