“Então lhes perguntou: Onde está a vossa fé? Atemorizados, eles se admiraram e diziam uns aos outros: Quem é este, que dá ordens até aos ventos e à água, e eles lhe obedecem? ” (Lucas 8.25)
O que você costuma dizer ou pensar de uma pessoa que não conhece? Se você colocar essa pergunta no Google é provável que encontre dicas ou conselhos do que tenha de fazer para ter um bom relacionamento com alguém. Na verdade, o que isto revela é o quanto sabemos de nós mesmos e o que sabemos do outro. Por óbvio, conseguimos nos relacionar com aqueles a quem conhecemos e que apresentam algumas características parecidas com as nossas.
Quando olhamos nas entrelinhas para percebermos a reação daqueles que estavam com Jesus no barco, algumas conclusões podem ser tiradas: até aquele momento, os discípulos pouco sabiam sobre Jesus; eles ficaram impressionados com o fato de Jesus estar dormindo na popa do barco, como se nada estivesse acontecendo; e, ficaram embasbacados quando Jesus com uma simples ordem mandou que o vento cessasse e o mar se acalmasse. Tudo isso mostrava mais sobre eles mesmos do que sobre Jesus, a ponto de Jesus mesmo lhes perguntar “onde está a vossa fé?”.
Mas há uma questão primária que perpassa o tempo e chega também a cada um de nós: quem Jesus é? Responder esta pergunta é importante para moldar o relacionamento que podemos ter com ele, pois vai revelar muito de quem nós mesmos somos. Na verdade, a importância desta questão está no fato de que primeiro vem o ser para depois vir a relação com tudo o mais. Saber quem nós somos é fundamental neste processo, mas isso só pode ser de fato conhecido quando sabemos quem Jesus é. Isto é muito claro para Jesus, pois ele sabe muito bem quem ele é e isso molda sua relação na perspectiva da Trindade Santa. E quanto a nós, devemos saber que somos suas criaturas, criadas à sua própria imagem e chamadas a um relacionamento pessoal com ele. O fato de sermos criados à sua própria imagem deveria ser característica suficiente para querermos um relacionamento com ele, pelo menos.
Portanto, esta questão primária é ontológica. Assim, devo responder primeiro a pergunta “quem é Jesus?”, para só depois responder “quem eu sou?”. Jesus é Deus (Jo 1:1,18), mas ao mesmo tempo, apesar de sua deidade, sabe o que cada um de nós é e sente, pois é o Deus conosco (Mt 1.23). E, enquanto fisicamente com a humanidade, esteve sujeito a limitações físicas normais e sentiu o que sentimos: cansaço (Jo 4.6), fome (Mt 21.18), sede (Mt 11.19), alegria (Lc 10.21), tristeza (Mt 26.37), compaixão (Mt 9.36), ira (Mc 3.5). Por isso, ele é alguém que nos entende, pois passou pelo que passamos e num relacionamento mantido com ele, vai sempre estar ali, pronto para nos ajudar em toda e qualquer situação.
Esse é quem é Jesus, aquele que nos ama e quer restaurar a relação do homem e da mulher com a Pai, consigo mesmo, com o outro e com a criação como um todo. Saber quem ele é a questão primária que vai moldar o nosso relacionamento com ele e vai nos fazer seus discípulos e a sermos cada vez mais parecidos com ele. No final, não haverá outra conclusão, a não ser a que Pedro, quando questionado por Jesus sobre o que Pedro achava dele, respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus”. (Jo 6.68,69).