“Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, … E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite…” (João 19: 38-39)
Tempos atrás os crentes eram conhecidos como os “bíblias”. Rapidamente eram identificados, pois eram aqueles que andavam com um livro de capa preta debaixo do braço. Normalmente entre adolescentes, quando um crente não gostava de andar com sua Bíblia, ele era chamado de “crente 007”. Era considerado quase um espião, pois não assumia sua identidade. Andar ou não com a Bíblia hoje não expressa muito esse significado. Entretanto, só andar com uma Bíblia não mostra o que de fato você é, mas viver de acordo com os ensinamentos que ela dá, sendo “sal e luz” é o que faz a diferença e revela exatamente quem você é.
José de Arimateia e Nicodemos viveram assim, como “agentes 007”. Esconderam o que sentiam por Jesus até o momento em que não mais puderam suportar. Talvez neste momento tenha lhes nascido uma fé verdadeira, não sei! Nicodemos foi aquele que de noite foi procurar o Senhor Jesus, por medo de ser visto com o Mestre ou de expressar as dúvidas que tinha em relação a Ele. Não parece que havia superado ainda isto, até que chegou o momento de tomar uma decisão final. Não dava para esconder mais o resultado daquele encontro com o Senhor. Nicodemos acordou para o momento em que precisava mostrar sua fé. Não era tarde demais para fazer isto.
José de Arimateia, que também era um discípulo secreto, despertou como Nicodemos. Ele era um discípulo que seguia a Cristo, mas que ainda não havia demostrado sua fé. O relato no evangelho de Marcos, diz que José de Arimateia era membro do sinédrio e um dos que esperavam o reino de Deus (Mc 16:43). Parece que até então este ideário de espera ainda não havia se concretizado. Ele ainda não tinha certeza de que Jesus era aquele veio da parte de Deus para instalar seu reino, não um reino terreno, mas como o próprio Senhor Jesus falou a Pilatos “um reino que não era deste mundo”, mas celestial. Um reino que estava além das expectativas mundanas, mas que ao ser instalado proclamava o surgimento de uma nova possibilidade de serviço, de entrega, de submissão.
Para ambos, Nicodemos e José de Arimateia, a fé foi revelada com o advento da cruz. A cruz é que revela a nossa fé. É na revelação da cruz que nossa missão é aclarada. Podem ter passado todo o tempo acompanhando o Mestre sem que se decidissem ou revelassem sua fé, mas no momento certo foram ousados e a revelaram. Não havia mais motivos para escondê-la, pois a cruz já a expunha. Nicodemos deve ter lembrado daquela conversa de “serpente levantada no deserto”, pois agora era a hora de mostrar sua fé, crendo no Filho de Deus. O Cristo já fora levantado, ele o olhou e creu, manifestou sua fé e pôs-se a cumprir a missão para a qual tinha sido chamado naquele momento.
É uma perspectiva interessante para aqueles que ainda não conseguiram professar sua fé. Mas estes devem ter uma certeza, a de que ao olhar para a cruz e crer não há mais motivo algum para não se declarar como possuidor da fé salvadora. É preciso liberá-la, mostrar ao mundo, deixar de ser um “agente espião”, possuidor de uma identidade que não se revela. Mas a cruz, mostra quem você é de fato, pois quando a olhamos, aí, sim, é que sabemos quem realmente somos. Ela revela o Cristo crucificado, fala dele, mostra seu amor e revela quem devemos ser. Assim, o que você está esperando para com ousadia revelar sua fé? “007”, nunca mais!