Neste mês de outubro, comemoramos o Dia das Crianças (12) em todas as igrejas espalhadas pelo Brasil. No entanto, qual tem sido o espaço destinado para as crianças em nossos programas de Educação Cristã? Será que elas têm sido contempladas de forma significativa, ou não há muito espaço para elas?
Infelizmente, muitos educadores cristãos não têm dado a devida atenção para o ministério com crianças de suas igrejas. Nas palavras de Araújo (2021, p. 28): “A maioria das igrejas não investe nas crianças e em líderes para crianças. A grande coisa que fazem é apenas dar liberdade, para, de vez em quando, apresentar algo em datas comemorativas”.
A partir dessa preocupante constatação, convido a todos os educadores cristãos a refletirem comigo, neste texto, sobre a relevância da educação cristã de nossas crianças. Muitas vezes, igrejadas, mas não evangelizadas e, tampouco, pastoreadas.
Considerando a importância das crianças para o reino de Deus, e, inclusive, a necessidade de evangelizá-las, Spurgeon (2004, p. 46 e 47), a partir de sua experiência na evangelização e no discipulado de crianças, ponderou a seguinte questão:
Mas será que os pequenos esquecem? Eu acho que os acontecimentos dos quais mais nos lembramos na idade avançada são os que aconteceram em nossos primeiros tempos. Já dei a mão para homens grisalhos que já esqueceram quase todos os acontecimentos que intervieram entre sua idade e o tempo de sua infância, mas pequenas coisas que se deram em casa, hinos aprendidos ao pé de sua mãe, e palavras ditas por seu pai ou sua irmã, ficaram com eles. As vozes da infância ecoam durante toda a vida. O que foi aprendido primeiro é, em geral, a última coisa a ser esquecida. Aquelas crianças teriam o rosto de Jesus gravado em seus corações, e nunca esqueceriam de seu sorriso bondoso e terno. Pedro, Tiago e João e o restante de vocês, estão enganados e, por isso, precisam deixar as crianças virem a Jesus.
O famoso pregador Spurgeon (2004) enfatiza a importância dos ensinos de Deus na vida das crianças, posto que levarão a semente do evangelho e dos ensinamentos por toda a vida. Dessa forma, a igreja local deve, urgentemente, contemplar as crianças em seus programas de evangelização e discipulado cristão.
Além dessa concisa argumentação de Spurgeon (2004), pode-se, ainda, mencionar o que indicam as estatísticas de conversões, nas igrejas evangélicas. De acordo com dados, fornecidos pela Aliança Pró Evangelização das Crianças (APEC), organização cristã internacional, a qual atua na evangelização e discipulado de crianças, a idade mais favorável para a conversão é exatamente o tempo da infância (APEC, 1994 e 2014).
Segundo dados de Hunt (1960 apud APEC, 2016), a partir de um levantamento realizado em diversas igrejas evangélicas, verificou-se que a maioria das pessoas se convertem exatamente na fase infantil.
Mesmo levando em conta as pessoas que se desviam, aquelas que conheceram a Palavra de Deus, quando crianças, são as que têm mais chances de voltarem para o corpo de Cristo.
Idade aproximada da conversão dos cristãos |
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Até os 4 anos de idade | 1% |
Entre 4 e 14 anos de idade | 85% |
Entre 15 e 30 anos | 10% |
31 anos, ou mais | 4% |
Fonte: (APEC, 2016)
Por último, ao pensar na evangelização e no discipulado infantil, no contexto da igreja local, é oportuno que se considere o entendimento de ensinamentos e conceitos no ensino da igreja, para as crianças, visto que, na visão de Beechick (2014, p. 65): “Se receberem a história completa no princípio, crescerão em completo entendimento, como crescem suas mentes, e não terão de reaprender ou desaprender mais tarde, na vida”.
Nesse sentido, é necessário que a igreja planeje e execute um programa conciso e relevante para o pastoreio de todas as crianças alcançadas. Santos (2016) propõe que enchamos o coração de cada criança com os princípios bíblicos e com o amor de Deus. Conforme a autora, a igreja precisa acolher as crianças e ensiná-las. Se nos omitimos, elas estarão entregues ao mundo e à inversão de valores.
Neste 12 de outubro, como educador cristão, pense em cada criança de sua igreja e da vizinhança e, a partir de um diagnóstico, planeje com a sua equipe ações para alcançá-la, de forma integral, à luz da Palavra de Deus.
Referências
ALIANÇA PRÓ EVANGELIZAÇÃO DAS CRIANÇAS. Curso introdutivo para professores evangelistas de crianças. 3ª edição. São Paulo: Editora da APEC, 1994.
ALIANÇA PRÓ EVANGELIZAÇÃO DAS CRIANÇAS. Escola bíblica de férias: uma estratégia missionária urbana. 2ª edição. São Paulo: Editora da APEC, 2014.
ALIANÇA PRÓ EVANGELIZAÇÃO DAS CRIANÇAS. Apascenta os meus cordeiros: metodologia para um bom ministério com crianças. 16ª edição. São Paulo: Editora da APEC, 2016.
ARAUJO, Keila Pimentel. Sou líder do ministério infantil, e agora? Rio de Janeiro: Editora do autor, 2021.
BEECHICK, R. Como ensinar crianças do primário: compreendendo como elas pensam e aprendem. Tradução de Ercília Martelo D. de Micas. 5ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
SANTOS, Jaqueline da Hora. Evangelização discipuladora de crianças: formando uma nova geração de discípulos. Rio de Janeiro: Junta de missões nacionais, 2016.
SPURGEON, C.H. Pescadores de crianças: orientação prática para falar de Jesus às crianças. Tradução de Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2004.