Introdução
A crise climática atual, marcada por eventos extremos como ondas de calor, enchentes e perda de biodiversidade, revela uma desconexão entre o ser humano e o cuidado pela criação divina. Em Gênesis 1.28, Deus deu ao homem a responsabilidade de governar a terra, mas isso implica mordomia, não exploração. A teologia bíblica apresenta o cuidado ambiental como uma extensão do nosso culto e obediência ao Criador.
Deus deu ao homem o mandato de lavrar e guardar a terra (Gn 2.15), estabelecendo uma relação harmoniosa com a criação. Segundo Wayne Grudem, “nosso propósito é cumprir a meta para que Deus nos criou: glorificá-lo” (Grudem, 2001, p. 362). Dietrich Bonhoeffer reforça que o mandamento divino é claro e concreto, exigindo obediência, não interpretações (Bonhoeffer, 1985, p. 175). No entanto, a negligência da igreja em abordar questões ambientais reflete um distanciamento do papel que lhe foi atribuído por Deus, como sociedade instituída para transformar a realidade social, cultural e ambiental no meio em que está inserida.
Segundo a Agência Brasil, “Entre 2013 e 2022, desastres naturais como tempestades, inundações e alagamentos afetaram 5.199 municípios brasileiros, representando 93% do total de 5.570 municípios. Esses eventos forçaram mais de 4,2 milhões de pessoas a deixarem suas casas” . Essa informação deve permear nosso imaginário. Para onde foram essas famílias? E suas casas foram reconstruídas? São muitas as necessidades vividas por brasileiros acometidos pelos desastres naturais.
No dia 19 de janeiro de 2025, a Aliança Evangélica Brasileira utilizou seu perfil no Instagram para convocar o povo de Deus a refletir sobre a questão ambiental, com especial atenção ao cenário do Brasil. Cassiano Bluz, representante da instituição, alertou que organizações evangélicas e outras frentes de socorro emergencial estão atuando no limite diante das crises climáticas que, de forma quase simultânea, têm se intensificado no país. Bluz destacou a necessidade de envolver as igrejas em iniciativas preventivas, buscando não apenas remediar os impactos das catástrofes naturais, mas também promover ações práticas que contribuam para a redução dos seus efeitos. Por isso, precisamos fomentar o tema da responsabilidade ambiental no ambiente eclesiástico, intervindo antes das tragédias, e, acima de tudo, dando graças a Deus enquanto fazemos a nossa parte.
Essa convocação trouxe à memória o trabalho de conclusão do meu curso de Teologia pela FABAPAR, intitulado “Responsabilidade Socioambiental: Um Desafio para a Igreja Contemporânea”. A partir dessa reflexão, decidi produzir uma série de artigos voltados para a conscientização ambiental no contexto cristão. Esses textos têm como objetivo inspirar educadores cristãos a fomentar o tema da responsabilidade ambiental em suas comunidades, com base nos princípios da Palavra de Deus, respondendo de forma prática às demandas e desafios contemporâneos.
Que este chamado nos leve a agir como mordomos da criação, glorificando a Deus ao cuidar da terra que Ele nos confiou e integrando essa responsabilidade à nossa vivência cristã.
Fomentando a consciência ambiental nas Igrejas
- Fundamento bíblico para a consciência ambiental
- Textos:
- Gênesis 1.28: O mandato de Deus para governar e cuidar da criação.
- Salmo 24.1: A terra e tudo que nela há pertencem ao Senhor, destacando nossa responsabilidade como mordomos.
- 1Pedro 2.9: Somos nação santa e sacerdócio real, chamados a refletir em nossas ações tanto o plano terreno quanto o celestial.
- Pesquisa e reflexão sobre a temática
- Líderes e educadores cristãos devem buscar capacitação contínua sobre questões ambientais. Promova estudos bíblicos e teológicos específicos sobre o cuidado ambiental. Incentive a reflexão nos grupos de liderança da igreja para entender a importância do tema à luz da Bíblia.
- Preparação da liderança e da equipe
- A equipe da igreja deve estar informada e pronta para engajar a congregação no cuidado ambiental. Realize reuniões para debater práticas sustentáveis que podem ser adotadas na igreja. Incentive a integração do tema nos planos ministeriais e em diferentes áreas da igreja.
- Ações simples e visíveis
- Mudanças práticas na igreja:
- Implementação de coleta seletiva e reciclagem.
- Substituição de descartáveis por materiais reutilizáveis.
- Redução do desperdício de água e energia nos espaços da igreja.
- Essas ações demonstram o compromisso da igreja com o cuidado da criação.
- Promover atividades práticas e educativas
- Mutirões de limpeza: Organize eventos comunitários para limpeza de áreas públicas, envolvendo membros da igreja.
- Plantio de árvores: Incentive o plantio de árvores em parceria com a comunidade local.
- Educação ambiental:
- Realize oficinas sobre reciclagem e reaproveitamento de materiais.
- Ensine práticas de conservação de recursos naturais nas Escolas Bíblicas Dominicais.
- Inclua a temática da mordomia ambiental nos sermões e devocionais.
- Integrando fé e prática
- A educação cristã focada na mordomia ambiental é essencial para alinhar as ações da igreja à sua fé. Incentive cada membro a ver suas ações como parte de um testemunho de fé no cuidado com a criação. Reforce que no plano celestial tudo já está consumado, mas no terreno ainda há muito a fazer, e a igreja deve ser um agente de transformação.
- A urgência de acordar para a realidade
- Alerta: Sem ações concretas, os cristãos correm o risco de sucumbir ao sistema que “jaz no maligno” (1João 5.19). Líderes devem ser exemplos, inspirando a congregação a agir com urgência e propósito no cuidado ambiental.
A responsabilidade ambiental é um chamado urgente e inegociável para a igreja contemporânea. Diante da crise climática e de seus impactos globais, é imperativo que líderes e membros das igrejas reconheçam o cuidado com a criação como uma extensão de sua adoração a Deus e testemunho ao mundo.
Ao integrar práticas sustentáveis, promover a educação ambiental e assumir uma postura ativa, a igreja demonstra sua fidelidade ao mandato divino de lavrar e guardar a terra (Gn 2.15). Além disso, ações práticas como mutirões de limpeza, plantio de árvores e iniciativas de conscientização não apenas refletem o amor de Deus pela criação, mas também transformam comunidades e inspiram mudança.
Que cada cristão, como nação santa e sacerdócio real (1Pe 2.9), veja no cuidado com o meio ambiente uma oportunidade de manifestar o caráter de Deus. Não podemos mais ser passivos ou negligentes; é hora de sermos agentes de transformação, enfrentando as necessidades terrenas com fé e ações práticas.
O plano celestial já está consumado, mas no terreno ainda há muito a ser feito. Que a igreja desperte para esta realidade e inspire o mundo com sua esperança, fé e compromisso no cuidado com a criação. Como mordomos da terra, sigamos o chamado de glorificar a Deus em tudo o que fazemos, inclusive no cuidado com o planeta que Ele nos confiou.
Referências
BONHOEFFER, D. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 1985.
GRUDEM, W. Teologia Sistemática: Atual e Exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2001.
ALIANÇA EVANGÉLICA BRASILEIRA. Publicação no Instagram. Disponível em: @aliançadevangelica. Acesso em: 19 jan. 2025.
Agência Brasil .Publicação do Site. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/desastres-naturais-atingiram-93-dos-municipios-nos-ultimos-10-anos