Escrever sobre adolescentes e jovens enche meu coração de alegria. Entre 2007 e 2014, tive o privilégio de liderar os adolescentes e jovens, carinhosamente chamados Adol’s na Primeira Igreja Batista de Oswaldo Cruz (RJ), com cerca de 150 adolescentes e jovens reunidos em pequenos grupos. Sua ousadia, criatividade e paixão pelo Reino me mostraram o quanto essa geração é uma potência nas mãos de Deus.
Neste mês em que celebramos o Jovem Batista, essa reflexão se torna ainda mais significativa. Esta série de artigos é um convite a olhar com mais cuidado e intencionalidade para a formação cristã dos adolescentes e jovens — protagonistas da igreja de hoje e do amanhã.
Compreender os adolescentes batistas da Geração Z exige mais do que aplicar generalizações geracionais. Esses jovens estão imersos em um mundo digitalizado, mas também são moldados por uma tradição de fé protestante histórica, o que lhes confere identidades religiosas únicas e complexas. No contexto brasileiro, adolescentes batistas compartilham valores típicos da Geração Z, como autenticidade, senso de justiça social e valorização da individualidade. No entanto, sua formação religiosa acrescenta elementos singulares, como o compromisso com a autonomia da igreja local, a suficiência das Escrituras, o batismo por imersão e o sacerdócio universal dos crentes. Tais fundamentos não são apenas doutrinários, mas influenciam sua espiritualidade prática e a forma como vivenciam a fé.
Segundo Souza et al. (2022), essa geração demonstra forte preferência por ambientes de aprendizagem interativos, tecnológicos e com aplicação prática. Eles são pragmáticos e orientados pela busca de significado: “A Geração Z, exposta à tecnologia, demonstra expectativa de uso de ferramentas tecnológicas e de aprendizagem que aproximem teoria e prática” (SOUZA et al., 2022, p. 438). Essa inclinação encontra afinidade com a ênfase batista na convicção pessoal. Os adolescentes dessa geração não se satisfazem com tradições formais — eles anseiam por uma fé encarnada, que faça sentido em sua realidade cotidiana, suas relações sociais e seus dilemas existenciais.
Esse desejo de autenticidade também convive com pressões emocionais e sociais intensas. Estudos recentes alertam para o crescimento dos índices de ansiedade e depressão entre adolescentes conectados à cultura digital (SILVA & MENDES, 2021). Nesse cenário, a igreja local precisa se apresentar como porto seguro, um espaço de escuta, acolhimento e discipulado integral. Como enfatiza Bonhoeffer (2006), “A igreja só é igreja quando existe para os outros… não dominando, mas ajudando e servindo.” Esse princípio deve se traduzir em práticas pastorais e de educação cristã concretas voltadas aos adolescentes: grupos de apoio, mentorias, espaços de escuta e formação para o cuidado integral.
Tim Keller (2009) contribui ao afirmar: “A fé cristã é muito mais do que um conjunto de crenças; é um caminho para a plenitude da vida que toca todas as dimensões da existência humana.” Assim, a educação cristã precisa oferecer uma formação integral, que dialogue com as emoções, a sexualidade, os sonhos e as dores da juventude, mostrando que o discipulado alcança o cotidiano. Fé e vida devem caminhar juntas, em coerência e verdade.
A Bíblia oferece um exemplo impactante em Timóteo, que, apesar da juventude, foi chamado a liderar: “Ninguém te menospreze por seres jovem, mas procura ser exemplo para os fiéis, na palavra, no comportamento, no amor, na fé e na pureza” (1Tm 4.12). Essa exortação deve orientar a postura da liderança adulta em relação à juventude: ao invés de controlá-los, a igreja deve “empoderá-los” com maturidade e responsabilidade. Juventude não é limitação, é oportunidade de testemunho precoce com integridade.
Portanto, os adolescentes batistas da Geração Z não são espectadores da fé, mas participantes ativos de sua construção. Compreendê-los, ouvi-los e equipá-los é missão urgente da educação cristã contextualizada, que integra doutrina, cuidado e formação integral.
É isso, um salve a todos os ADOLESCENTES BATISTAS!
Bibliografia:
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e Submissão. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
FARIAS, Lúcia. Juventude Brasileira e Religião: Novos Perfis e Desafios para a Sociologia da Fé. Religião & Sociedade, v. 39, n. 1, p. 75-92, 2019.
KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo. São Paulo: Vida Nova, 2009.
SILVA, Patrícia A.; MENDES, Roberto C. Saúde Mental e a Geração Z. Revista Psicopedagogia, v. 38, n. 117, 2021.
SOUZA, Rosana S. de et al. As ferramentas de aprendizagem preferidas da geração Z. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 103, n. 264, p. 430-449, 2022.