“Mas os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro” (João 12:10)
Um dia desses, numa gravação telefônica autorizada pela justiça e publicada nas mídias ouvimos de um senador da república sobre “eliminar um cara” se ele se constituísse numa ameaça. Este tipo de assunto era comum para um tipo específico de ambiente, mas agora esta é uma expressão corriqueira em vários ambientes e classes. Isto porque a execução de atos ilícitos é comum a qualquer ambiente e é consequência de cobiça própria, ou de soberba, ou de desejo de subjugar e oprimir o próximo ou mesmo de intenção de apagar rastros e provas.
Não contentes com o desenrolar dos fatos, os fariseus não somente tentam matar Jesus, mas também aqueles que são alvo de sua misericórdia e ação milagrosa. Assim, vendo a crescente perda de terreno para Jesus, as forças religiosas dominantes fazem planos para barrá-lo. O motivo é claro e pode ser identificado no próprio contexto, muitas pessoas estavam maravilhadas com os atos de Jesus e, em adição, passam a ser também seus discípulos. Até então nenhum daqueles que ali estavam tinham visto tamanha demonstração de aglomerar
pessoas e de poder que podia até ressuscitar alguém dos mortos.
A presença de nosso Senhor por si só já é uma ameaça quando os pensamentos são contrários aos dEle. Quando o Senhor Jesus está presente os sentimentos afloram e revelam quem de fato nós somos. Na verdade, não é num processo de autorreflexão que é revelado quem nós somos, mas no olhar para Cristo, pois quando o vemos é que sabemos quem de fato somos. A presença do Senhor nos expõe e o que afagamos interiormente vem à tona. Jesus era uma ameaça para aqueles homens. Isso é completamente estranho porque aqueles homens se
constituíam como aqueles que deveriam reconhecer a presença do Cristo e encaminhar o povo à presença dEle. Mas o que ocorre é exatamente o contrário.
Neste caso, é melhor eliminar a ameaça que cresce. Mas nosso Senhor já passou por isso antes quando ainda era apenas um bebê e a morte iminente sempre o perseguirá até que a vença por completo. Quando a presença de Cristo nos ameaça ou mesmo até o ouvir de seu nome, tentamos eliminar a ameaça começando pelo lado mais fraco, isto faz parte de nossa natureza caída. No caso, Lázaro era o alvo a ser eliminado. Ele constituía uma prova cabal de um poder transformador e de que aquele homem Jesus era de fato o Filho de Deus que havia de vir. Não
nos enganemos, quando somos alvos da graça de Deus e passamos a revelar essa graça nos tornamos também uma ameaça. Veja-se a história de surgimento da Igreja e dos períodos sombrios de perseguição que a tem acompanhado até hoje. Por mais que vivamos uma aparente calmaria, aquele que é o inimigo de nosso Senhor e nosso também está ávido para eliminar as provas de tão grande amor e de tamanha revelação de verdadeira misericórdia.
Apagar Lázaro não resolveria o problema deles, mas os colocaria num estado crescente de cegueira e num sentimento de frustração cada vez maior. Tanto é que eles percebem que os planos até então elaborados não têm dado certo (Jo 12:19), mas funcionam exatamente ao contrário. “Eliminar o cara” não resolveria o problema. Isso é importante de observamos, pois eliminar determinadas “coisas” que fazemos ou pensamos não vai anular nossa natureza pecaminosa se não vier acompanhada de arrependimento e reconhecimento de que nossa única alternativa é entregar-se a Cristo. A partir disso, a presença limpadora de nosso Deus, através de seu Santo Espírito, vai se encarregar de fazer a transformação necessária que não podemos fazer. Por outro lado, as provas de quem nós éramos vai permanecer ali para nos confrontar cada dia e vermos o quanto somos falhos, até que sejamos completamente transformados. Mas até lá, é melhor não pularmos no abismo sem fundo de eliminar Deus.