“Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (João 9:2,3)
O termo carma é usado em várias culturas e religiões e tem embutido em si a ideia de que o que se faz no momento (bom ou ruim) tem consequências futuras (boas ou ruins) que serão sentidas em processos de reencarnação futuros. Este não é um conceito preciso, pois cada religião tem um significado peculiar para o termo. Nem tampouco é um conceito bíblico. Tenta-se até dar um cunho científico usando a lei física da ação e reação. O fato é que esta não é uma ideia nova e o ambiente gerado pela dominação romana propiciava sua disseminação, pois havia uma abertura para qualquer expressão religiosa ou para quaisquer ideias filosóficas, o que de certo modo foi bom também para o surgimento do Cristianismo.
Os discípulos de Jesus já deviam ter ouvido de alguma forma sobre esta ideia e o episódio narrado pelo evangelista João expressa isso. Não é de admirar tanto assim, pois também criam em fantasmas (Mt 14:26). Eles indagam ao seu Mestre de quem era a culpa por aquele homem ser cego, se dele mesmo ou de seus pais. A questão parece estar vinculada ao fato de alguém haver ou não pecado. Jesus, no entanto, dá o posicionamento correto em relação ao fato.
Jesus diz que naquele caso não era questão de pecado, mas de propósito. De propósito também foi o caso da cura, também no sábado, do paralítico no tanque de Betesda (Jo 5), mas parece que lá havia uma questão de pecado envolvida (Jo 5:14). Há, portanto, situações em que o sofrimento pode ser ou não consequência de pecado específico. Mas, no caso em tela, Jesus afirma que há um propósito nisso: “para que se manifestem nele as obras de Deus”. Neste aspecto é importante não imputar a Deus a culpa pela situação do homem, mas as infelicidades da vida podem ser um meio de que as obras de Deus sejam manifestadas.
Aquele homem tanto foi alvo das obras quanto vetor delas. Foi alvo porque através do Jesus Cristo presente (“enquanto é dia”!) ele foi curado e vetor porque foi através dele que as obras do próprio Jesus foram expostas para todos. A luz do mundo por onde passa vai clareando o caminho e revelando as obras de Deus. Era importante que no meio do caminho as coisas fossem acontecendo até que não houvesse mais dia (“noite vem, quando ninguém pode trabalhar”!). Não era que a luz seria cessada permanentemente e houvesse o domínio das trevas, mas a presença do Cristo não seria mais fisicamente vista. Ao contrário, a luz que naquele momento era vista seria percebida em cada um de nós (Mt 5:14).
Jesus, o Cristo, é a revelação máxima da obra de Deus. Como foi percebida por aquele homem, continua ainda hoje clareando corações. E, embora tenhamos de passar por sofrimentos nesta vida, nosso Senhor é quem nos dá as condições de enxergarmos claramente a ação dEle em nossas vidas. Ele pode usar nosso sofrimento temporário ou até mesmo persistente para nos revelar sua glória. Mas uma coisa deve ficar clara, um encontro no meio de nossa caminhada com o Mestre faz com que enxerguemos e traz-nos uma nova perspectiva de vida. Até mesmo as infelicidades podem ser meio (e de fato são!) de glorificar a Deus e como aquele homem passamos a ver o que antes era impossível. Senhor, abre os meus olhos para que eu sempre veja e que eu seja a luz (ou mesmo a lamparina que carrega a luz!) que mostra as obras do Pai. Amém!