“Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?” (João 8:33)
Em 2008 foi lançado o filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Henrique Meireles. O filme relata uma cegueira inexplicável, chamada de “cegueira branca” que acomete uma cidade. Rapidamente as pessoas atingidas são postas em quarentena, mas a doença se espalha atingindo a todos, com exceção de uma mulher. Instala-se o caos, onde as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, mostrando a perda da humanidade e estando sujeitas a seus instintos primários. Segundo a crítica, “Ensaio sobre a cegueira”, não deve ser focado na epidemia que é mostrada no filme, mas visto de outra forma, mostrando que só depois das pessoas voltarem a enxergar é que vão ver o mundo como realmente ele é, vivendo todos de forma harmônica depois de passarem momentos de sofrimento juntos e humanizando-se novamente.
O filme é bem interessante, mas não foca na verdadeira cegueira a qual está submetida a humanidade. Ao contrário, Jesus mostrou à sociedade de sua época e continua reverberando para nossa sociedade pós-moderna que o problema é, acima de tudo, moral. Voltar a enxergar passa mais que por uma cura física, mas uma cura moral, pois envolve o que nos torna cegos e nos afasta dAquele que pode fazer ver.
A cegueira à qual aquele povo na época de Jesus estava submetido e, na verdade, toda a humanidade, impede de vermos a Jesus, mesmo que Ele se nos apresente! Jesus estava ali mesmo, expressando em todo seu fervor o amor do Pai. Estava pronto para lhes abrir os olhos, mas eles não tinham a condição de que lhes fossem abertos. O que lhes restava era, na sua cegueira, morrerem em seus pecados. Essa é a condição a que a humanidade está imposta: permanecer morta em seus pecados até que veja, pois não consegue enxergar o Senhor até que Ele se revele.
Esta revelação é essencial para que possamos ver de fato, do contrário, estaremos cegos também. No texto acima, a discussão com os judeus continua e Jesus dá um exemplo de que eles estavam cegos, ao contrário de Abraão que eles consideravam como pai. Jesus afirma que Abraão não era cego, pois viu o Seu dia e se alegrou, mesmo estando há centenas de anos antes do fato acontecer fisicamente. Ele viu o futuro, saudou-o e creu, sendo isto lhe imputado como justiça (Hb 11). Entretanto, aqueles homens estavam cegos e mesmo vendo fisicamente, a olho nu, a Jesus e o seu dia sendo concretizado, não eram capazes de crer. Jesus continuava para uns como, no máximo, um bom mestre vindo da parte de Deus (Jo. 3:1).
Eles eram incapazes de ver quem era Jesus, então quiseram-no apedrejar, mas não antes de ouvirem o que lhes queimaria o coração e faria que todo o ódio brotasse, porque não eram filhos espirituais de Abraão. Jesus então lhes declara: como Deus o Pai, “Eu Sou”. Mas o coração cego não deixa que os olhos vejam quem lhes está à frente. E Jesus passa-lhes ao lado, sem que o vejam e revela o que de fato é a humanidade sem Ele: cega! Abre os olhos de teu povo, para que veja, Senhor!