“Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei.” (João 20:25b)
Em termos da Filosofia, podemos tomar uma definição de ceticismo como sendo “a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real” (Dicionário Online de Português). De onde se depreende o significado da palavra cético como sendo aquele que duvida, que não acredita, que é descrente ou incrédulo. Assim é Tomé, mesmo depois de passar tanto tempo com a Verdade!
Esta será a última dúvida de Tomé, a ressurreição de Jesus, relatada por João no seu evangelho. Para Tomé, que estava acostumado a crer no que ele podia explicar, baseado na sua própria experiência e contexto, era impossível que Jesus tivesse aparecido para os outros discípulos. Daí sua declaração de que só acreditaria não somente se visse o Senhor Jesus, mas se constatasse que era ele, pondo a mão nas suas feridas. Esse é o verdadeiro cético, pois mesmo sob o depoimento de seus próprios colegas, com quem convivera por três sofríveis e extraordinários anos, mesmo sob a declaração de seu próprio Mestre, com que tivera as mais fascinantes experiências, não lhe era permitido crer.
A Tomé lhe faltava a fé, pois à fé está relacionada “a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem” (Hb 11:1). Mas como ter fé se não se espera, ou no que não é habitual? Parece que esta era a situação de Tomé, ele não esperava que o que Cristo havia dito se concretizaria. Após a morte de Jesus, tudo estaria acabado. Ele era pragmático e, assim, o que lhe valia era que após a morte, provavelmente, a ressurreição só aconteceria no último dia (para muitos, um tempo perdido no próprio tempo!). Nem mesmo a declaração de Jesus de “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25) e logo depois numa demonstração de poderio divino inquestionável, com a ressurreição de Lázaro, foi suficiente. Isto deveria ter quebrado qualquer argumento pragmático, e colocado fé no coração de Tomé.
Recriminar Tomé é jogar pedra em telhado de vidro! Pois, diante de nós se descortina a própria Palavra de Deus (Bíblia), relatando fatos e acontecimentos que não deveríamos nunca deixar de crer. A Palavra de Deus deveria ser considerada de fato infalível, em todos os aspectos. Mas parece que tem algumas coisas para as quais ela não funciona! Assim, assuntos específicos de nosso dia a dia, passam ao largo da Palavra de Deus e agimos por nossa própria conta. Às vezes parece que esquecemos que ela é “nossa regra de fé e prática” para qualquer questão! Felizmente, para Tomé não foi o fim. Há uma mudança neste último ato de dúvida de Tomé relatado por João.
Tomé reconhece sua incredulidade e diante da evidência apresentada pelo próprio Senhor Jesus, crê! Jesus conhecendo seu ponto fraco vai em cima dele e lhe dá a oportunidade de crer. A fé necessária brota em seu coração pela ação do Mestre, não nasce do coração de Tomé, que é incrédulo. Mas João, provavelmente, com o intuito de testar nossa crença, termina o relato dizendo que “fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro” (Jo 20:30). Agora nós somos testados e desafiados a crer! O problema de Tomé foi resolvido, mas e o seu? A João e outros, Jesus diz que são bem-aventurados, pois não precisaram ver as marcas e os cravos, mas apenas os lençóis lhes bastaram. Que “Du-vi-d-o-do” não seja o mote de nosso viver, pois a evidências estão aí!