Como interpretar a Bíblia? A hermenêutica denota tanto a ciência quanto a arte da interpretação, a serviço da ferramenta bíblica de aprendizagem a serviço do professor e demais líderes da igreja, quando o assunto é ler, estudar, aprender e ensinar a Bíblia. O professor como intérprete da Bíblia tem autoridade dada por Deus para manejá-la. Você já ouviu dizer que “sabemos mais das Escrituras do que sobre o Deus das Escrituras”. Todos que dependem das Escrituras para ensinar devem recorrer à hermenêutica bíblica a fim de conduzir as pessoas a Cristo.
No Seminário Batista Goiano, a Teologia (“pensamento e discurso a respeito de Deus”) tem sido indispensável no estudo da Bíblia, isto se aplica também a qualquer Instituição de ensino teológico, a hermenêutica não é diferente, é parte integrante da organização da matriz curricular. Recorrer à hermenêutica bíblica para interpretar a Bíblia por parte do professor, pode ser algo incrivelmente prático e claro, pois oferece ao leitor, professor os princípios básicos para a compreensão da Palavra de Deus. A interpretação bíblica deve ser cristocêntrica. Segue um esquema para nossa melhor compreensão desta relação do professor com a integridade hermenêutica.
Autor divino → autores humanos → texto original das Escrituras
(hebraico, aramaico e grego)
É verdade que a Bíblia “não foi escrita para ser estudada, como um esboço teológico, um texto de comprovação, ou livro-texto, mas para transformar vidas”, nem por isso, devemos deixar de estudá-la. “A Bíblia não deve apenas ser compreendida, deve ser também vivenciada em nosso cotidiano.” Compreender o que o autor bíblico quis dizer aos seus leitores é fundamental. Quero aproveitar a oportunidade para tecer alguns breves comentários sobre o contexto literário, bem como a crítica (ou análise) textual entre outras.
Ao adotar uma ferramenta bíblica de aprendizagem o professor se propõe fazer uma exegese sempre que fizer referência ao texto bíblico. É fundamental que o professor se familiarize com o texto. Ler a Bíblia várias vezes com propósito definido. Ou seja, a exposição bíblica do texto escrito pressupõe dois fatores: a) a natureza do leitor e a b) natureza das Escrituras. “Um texto não pode significar o que nunca significou para seus leitores, ouvintes originais” (p.48).
A exegese é uma ferramenta indispensável para o estudo cuidadoso e sistemático das Escrituras. A relação que o professor tem com a Bíblia faz toda diferença na prática educativa. É o fundamento de uma exegese considerar: leitura sintética (o tema principal), biográfica, histórica (situação social, geográfica e cultural), teológica (o ensinamento doutrinário), retórica (figuras de linguagem), tópicos (os assuntos principais do livro), analítica entre outras.
Neste sentido o contexto literário tem uma tarefa crucial na exegese textual. O significado das palavras e frases anteriores e posteriores. “Uma das características predominantes das narrativas bíblicas é seu amplo realismo. Um deles é o fato de que narradores bíblicos se esforçaram para situar seus relatos no tempo e no espaço” (p.40).
A crítica (ou análise) textual é a disciplina acadêmica que compara as várias cópias de um texto bíblico para determinar a provável forma do texto original que trabalha com controles rigorosos. Neste sentido temos os tipos de evidências: a externa (a natureza e a qualidade dos manuscritos) e a interna (os tipos de erros a que os copistas estavam sujeitos). A evidência externa diz respeito à qualidade e a antiguidade dos manuscritos. A evidência interna diz respeito ao trabalho dos copistas e dos autores. Segue um esquema para nossa compreensão.
Cópias do texto original → edição crítica do texto → tradutores → traduções em português → leitores
Cabe ao professor considerar o papel do leitor como intérprete e a natureza das Escrituras. Percebe que a primeira tarefa do intérprete se chama exegese. É quando o professor considera a linha de raciocínio e o pensamento do autor a partir de uma lógica de raciocínio dedutiva, ou seja, do geral para o particular. Considera-se que os textos estão organizados em versículos, cabendo ao professor fazer perguntas ao texto. Há dois tipos básicos de perguntas: a) dizem respeito ao contexto histórico e, b) as que dizem respeito ao conteúdo bíblico. Uma ferramenta bíblica de aprendizagem como a exegese auxilia o professor na abordagem do texto bíblico e assegura solidez conceitual.
O que sabemos sobre a ciência da tradução? Há dois tipos: 1) caráter textual, o que realmente foi registrado no texto original e o 2) caráter linguístico, ligado à teoria da tradução dos tradutores, versão do texto para o vernáculo. Considera-se algumas particularidades históricas dos livros da Bíblia como a época e a cultura. Ou seja, o contexto histórico, judaico, semítico e greco-romano faz enorme diferença no processo ensino aprendizagem bem como na adoção de uma ferramenta bíblica de aprendizagem.
Quanto ao contexto histórico, isto é, o pano de fundo, permite ao professor e aos alunos compreender determinados textos da Bíblia. Para exemplificar: As parábolas de Jesus, costumes dos dias de Jesus; profeta Ageu, profetizou depois do Exílio. “montes em volta de Jerusalém” (Sl 125.2) refere-se a colinas e platôs. O próprio Jesus, era Mestre em contar histórias, uma ferramenta bíblica de aprendizagem antiga. Em outras oportunidades fazia perguntas, tendo como referência a maiêutica socrática com o propósito de conduzir seus discípulos a apropriar das verdades bíblicas. Ele também adotou ilustrações visuais para transmitir seus ensinamentos. Entendo que cada ferramenta bíblica de aprendizagem tem sua finalidade específica. Os narradores da Bíblia tendem apresentar a base circunstancial e factual para suas narrativas. Leia (Gn. 12.5-6).
É fundamental saber a ocasião e o propósito de cada livro da Bíblia. Conhecer o vocabulário e o estilo de um determinado autor da Bíblia. Sabe-se que “a narrativa é a forma predominante do texto bíblico.” (p.39). Há uma multiplicidade de gêneros literários na Bíblia e o professor precisa se apropriar deste conhecimento. A Bíblia é um livro de histórias e a ferramenta bíblica de aprendizagem a ser adotada facilita o processo ensino e aprendizagem.
A partir destas considerações, dizer que ao adotar uma ferramenta bíblica de aprendizagem o professor precisa considerar: a) necessidade de contextualização, implica elaboração de perguntas, ações que envolvam o cotidiano das pessoas; b) aplicação, individualmente ou em pequenos grupos; c) as ferramentas propriamente ditas e, d) competências, como a capacidade de comunicação, criatividade, empatia, trabalho em equipe, liderança, argumentação entre outras.
Como você pode perceber existem tipos de comunicação contidos na Bíblia: histórica em narrativas, genealogias, crônicas, leis, poética (Jó, Cantares), provérbios (Provérbios e Eclesiastes, profética (Isaías, Jeremias), enigmas, dramas, esboços biográficos, parábolas, epístolas – endereçadas a leitores específicos, sermões e apocalipse – julgamento e intervenção divina. Agora você sabe por onde começar quando tiver que adotar uma ferramenta Bíblica de aprendizagem.
Neste ensaio não posso deixar de mencionar os tipos de estudos: tópicos ou temáticos. Dependendo do tipo de estudo, adota-se uma determinada ferramenta bíblica. No caso do Seminário Goiano, eu tive oportunidade de fazer o curso sobre narrativas bíblicas do Antigo e Novo Testamento com o pastor e missionário Herbert Jackson Day e, inúmeros outros cursos sobre Estudo Indutivo da Bíblia.
É imperativo que sejamos diligentes no estudo da Bíblia e na utilização de ferramentas bíblicas de aprendizagem que facilitem a nossa compreensão da Bíblia. Considere o texto bíblico a partir desta tríade: Observação (O que vejo?), Interpretação (O que isto significa?) e Aplicação (Como isto funciona?). Quero destacar a importância desta tríade para o processo ensino aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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