O conceito de Missão Integral conecta o evangelho com a transformação social e ambiental, abordando a totalidade do ser humano e sua relação com a criação. Diante da crise climática, a Missão Integral oferece um modelo teológico que une fé e prática, desafiando os cristãos a serem agentes de mudança.
Sustentabilidade é a capacidade de atender às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras, garantindo o equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social. Ela envolve o uso responsável dos recursos naturais, a proteção dos ecossistemas e a promoção de práticas que respeitem a dignidade humana e a harmonia com o meio ambiente, buscando um desenvolvimento que seja inclusivo, equitativo e duradouro. Buscar racionalizar a fé, sem medo do liberalismo ou do mau uso da Teologia da Missão Integral, para dentro de uma perspectiva restauradora visando voltar à forma de sociedade que Deus sonhou, sem utopia celestial é um desafio para a igreja no que trata da sustentabilidade. O servo de Cristo, não é por ele mesmo, ser superior em seu cristianismo diz Schaeffer, caso se abstenha de algum ponto relevante para a execução do seu cristianismo: “A primeira consequência de colocar-se o Cristianismo no andar superior diz respeito à moral. Surge a questão de como estabelecer-se um relacionamento de um Cristianismo no andar superior para com a esfera da moral na vida cotidiana. A resposta simples é que tal não é possível. Como vimos não há categorias no andar superior; portanto, não há maneira de provê-lo com qualquer espécie de categorias! Em consequência o que realmente define o chamado “ato cristão”, (SCHAEFFER,1997, p. 79). Não pode ter verdadeira moral no mundo real uma vez feita essa dissociação. Portanto, quando o cristão dissocia o cuidado espiritual do cuidado prático com a natureza, torna seu cristianismo incompleto nele mesmo.
A igreja deve buscar prestar um culto racional, entre a coerência da ação e prática da fala na sociedade cristã para colaborar com o resgate da justiça social, e da responsabilidade ambiental, visando uma sociedade sustentável. Falando desta busca Fonseca ressalta: “Há que se garantir a agência das populações em situação de vulnerabilidade ou precariedade socioambiental – sejam elas crianças, pobres, comunidades indígenas, populações negras, etc, – nos projetos de desenvolvimento socioambiental, adotando práticas mais democráticas, mais justas e incluidoras; condições inescapáveis para a construção de uma sociedade sustentável.” (FONSECA, 2008, p.13.). Como nossos templos grandiosos podem servir de forma sustentável à nossa cidade?
Com o afã de uma sociedade melhor com participação total dos Batistas Brasileiros, sobre a ordem social em sua Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasil, no artigo XVI do Pacto das Igrejas Batistas diz: “Como o sal da terra e a luz do mundo, o cristão tem o dever de participar em todo esforço que tende ao bem comum da sociedade em que vive. 1 – Entretanto, o maior benefício que pode prestar é anunciar a mensagem do Evangelho; o bem-estar social e o estabelecimento da justiça entre os homens dependem basicamente da regeneração de cada pessoa e da prática dos princípios do Evangelho na vida individual e coletiva; 2 – Todavia, como cristãos, devemos estender a mão de ajuda aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a outros necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de quaisquer injustiças e opressões; 3 – Isso faremos no espírito de amor, jamais apelando para quaisquer meios de violência ou discordantes das normas de vida expostas no Novo Testamento;”
Que de forma analítica e construtiva com o objetivo de criar um caminho para a construção de uma sociedade cristã consciente de suas responsabilidades, busque-se um caminho para o debate desta temática nas igrejas e famílias cristãs. Tendo a Bíblia como regra de fé e prática, sem extremismos, mas buscando a verdade que há no Deus Criador, e Pai revelado.
A teologia bíblica deve ser a base para despertar a mobilização para o resgate da natureza. Calvino (2001, p. 293), ensinava que a humanidade deveria ser despertada para a realidade de que toda a criação inocente é punida por conta do pecado. A culpa é do homem pela sujeição à corrupção vivida pela criação. Os cristãos devem compreender que têm a responsabilidade de cuidar do lar que Deus deu, nosso planeta, que é toda a criação. No que tange a ação da igreja Padilla diz: “A evangelização e a responsabilidade social são inseparáveis. O evangelho é a boa nova do reino de Deus. As boas obras, por outro lado, são os sinais do reino para os quais fomos criados em Cristo Jesus. A palavra e a ação estão indissoluvelmente unidas na missão de Jesus e de seus apóstolos” (PADILLA, 2012.p 22). As tragédias ambientais, são também tragédias sociais.
Resgatar este entendimento diante da missão da igreja é a necessidade da contemporaneidade. O conceito da missão integral, sem ideologias em sua história e princípios, busca viabilizar um caminho ao cumprimento da missão da igreja. Com a base no amor, que há em Cristo, de onde vem nosso conhecimento, mentalidade, dedicação e amor até a morte, como ressalta Bonhoeffer (2009,p.35) e sem o amor tudo é reprovável e se desfaz. Sem amor em Cristo pela igreja e a natureza à sua volta, nada poderia ser feito ou se faria de forma errada.
Lausanne trouxe uma perspectiva global ao conectar responsabilidade social com evangelismo e responsabilidade ambiental, destacando que a fé sem obras é morta (Lausanne, 1985, p. 16). Parte do parágrafo 5º do pacto de Lausanne trata da Responsabilidade Social Cristã.
A Justiça Social é a equiparação de direitos a todo homem, físicos e emocionais de forma integral e genuína dirigida por Deus: Sendo o ser humano feito a imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade, possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada (LAUSANNE 2,1985, p.16). Há uma exploração ambiental no que depender de onde os seres humanos encontram como lugar de moradia, um lugar inabitável, por situação social, de raça ou de classe. Não me refiro somente aos moradores de encostas, sertão, ribeirinhos, mas também dos refugiados. Precisamos articular programas para atender essas pessoas, pensando em como podemos minimizar os impactos ambientais para que elas possam ter oportunidades reais de transformação integral de vida.
A missão integral toca exatamente na visão do cristão enquanto cidadão. E na necessidade do cristão se ver como parte de um todo, aprofundando o olhar para as necessidades locais e agir em relação a elas. Em seu comentário ao Pacto de Lausanne, sobre a doutrina do reino John Stott, fala sobre o aspecto da justiça de Deus sendo manifesta pelos filhos de Deus na terra: E essa transformação, se genuína, deve tocar em cada parte nossa: na verdade, na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. Se não, como podemos alegar que somos salvos? Pois a fé sem obras é morta (Tg 2.20) (SÉRIE LAUSANNE 4,1984 p.31).
Fomentando o cuidado ambiental nas Igrejas:
- Versículos como Provérbios 12.10 e Levítico 25.23-24 podem fundamentar práticas ambientais na igreja. Saiba que 54% das pessoas acreditam que o principal causador de problemas ambientais é a população. 48% deles defendem que a resolução cabe ao poder público. Fonte: ONG Oikos Brasil
- Conheça algumas ONGs cristãs socioambientais ao redor do mundo: ✓ Pão para o Mundo (Brot für die Welt): com sede na Alemanha, apoia projetos ligados à agricultura sustentável, como hortas comunitárias e captação de água para a chuva.
- Promover programas de conscientização ambiental, visitas a ONGs e instituições governamentais que articulam ações de impacto ambiental para a sustentabilidade.
Conclusão
A Missão Integral apresenta um caminho prático e teologicamente fundamentado para enfrentar os desafios da sustentabilidade em uma perspectiva cristã. Ela conecta a evangelização e a responsabilidade socioambiental, oferecendo uma visão de fé que não apenas contempla a redenção espiritual, mas também a transformação integral da sociedade e do meio ambiente.
A igreja, enquanto comunidade de fé, é chamada a atuar como agente de justiça, promovendo o cuidado com a criação de Deus. Ações práticas, como a promoção da reciclagem, o incentivo à agricultura sustentável e a parceria com organizações socioambientais, demonstram que o amor de Cristo pode ser vivido de forma concreta. Além disso, o ensino bíblico sobre mordomia deve ser um fundamento sólido para inspirar atitudes responsáveis e conscientes.
A missão integral é um convite para que os cristãos sejam sal e luz no mundo, participando ativamente na construção de uma sociedade mais justa e sustentável. Resgatar a criação do domínio do pecado e restaurar a dignidade humana são tarefas que refletem o amor gracioso de Deus. Como John Stott afirma, a fé genuína deve impactar todas as áreas da nossa vida e responsabilidade, pois a fé sem obras é morta.
A igreja precisa integrar a prática ambiental às suas ações e compromissos, reconhecendo que a responsabilidade pela criação não é apenas uma questão ecológica, mas também um mandamento divino. Assim, ela cumpre sua missão de ser um reflexo do reino de Deus aqui na terra.
Referências Bibliográficas
- Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 2009.
- Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
- Comissão Brundtland. Nosso Futuro Comum. Oxford: Oxford University Press, 1987.
- Fonseca, Alexandre. Sustentabilidade e Justiça Social. São Paulo: Paulus, 2008.
- Lausanne Committee for World Evangelization. O Pacto de Lausanne: Perspectiva Global e Responsabilidade Social Cristã. Lausanne: Lausanne Movement, 1985.
- ONG Oikos Brasil. “Pesquisa sobre a percepção da população em relação aos problemas ambientais.”
- Padilla, René. A Missão Integral da Igreja: Uma Perspectiva Bíblica. São Paulo: Editora Sepal, 2012.
- Pacto de Lausanne. Série Lausanne 4: Comentários sobre o Reino de Deus e a Justiça Social. Lausanne: Lausanne Movement, 1984.
- Schaeffer, Francis A. Como Viveremos? São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997.
- Stott, John. Série Lausanne 4: O Significado do Reino na Vida Cristã. Lausanne: Lausanne Movement, 1984.