“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1)
No estudo de nossa gramática, aprendemos sobre dez classes gramaticais, dentre elas verbo. Aprendemos que verbo é uma classe de palavras que indica uma situação ou mudança de estado. Mas João não está preocupado com a gramática, ele não está interessado numa análise sintática dos termos de uma oração. A preocupação dele está em revelar o Verbo da Vida, que no caso é uma pessoa, não uma classe gramatical. Da análise da perspectiva de João, observa-se um interesse na contextualização do conhecimento que se tinha em voga e mais do
que isso, há o interesse em mostrar que o Verbo (o Logos) era uma pessoa real, diferentemente do que eles pudessem imaginar.
Quando João escreveu seu evangelho, ele o fez numa época em que havia um domínio grego em termos de pensamento filosófico. Como apresentar à sociedade o Criador de todas as coisas, agora personificado em Jesus, o Deus presente? Havia no pensamento grego a ideia da existência de um criador e mantenedor de todo o universo, mas alguém que era muito distante e inacessível. Ao contrário, o povo judeu também mantinha a forte crença no Deus criador, mas que se relacionava com a criação de forma mais efetiva. Assim, os judeus eram
ensinados nas Escrituras Sagradas que o Deus criador intervia no mundo criado. O que João faz? Apresenta ao mundo greco-romano o Deus-homem, a Palavra (Logos, Verbo) encarnada.
Assim, João nos mostra que a forma de apresentação do evangelho é muito importante. Falar uma linguagem que as pessoas entendam é o primeiro passo nosso para que a comunicação do evangelho seja efetiva. A linguagem é adaptável, mas o objeto da mensagem não pode mudar. João não abre mão de anunciar a verdade revelada em Jesus. E quem é esse Jesus? Ele diz que Jesus é o verbo que os filósofos gregos fizeram menção, apesar de eles acreditarem nesse verbo como uma força poderosa que criou o universo e que o sustenta, mas que não se
relacionava pessoalmente com a criação. João, ao contrário, apresenta não uma força poderosa, mas uma pessoa, que ao mesmo tempo era homem e Deus.
Ele faz questão de dar detalhes, afirmando que o Verbo da vida já existia antes da criação, era uma pessoa distinta de Deus, estava lá no evento da criação e mantinha uma relação de intimidade com Deus, pois compartilhava da mesma natureza. Ele descreve ainda que Jesus era a Palavra de Deus em ação. Quando Deus disse “haja” (Gn 1), como uma ordem criadora, Jesus era esta Palavra que ia produzindo e criando todas as coisas. Jesus era agente ativo na criação e sem ele nada do que foi feito poderia existir. Depois de tudo criado, para que a ordem pudesse ser mantida, a Palavra em ação continuava agindo. E não somente isso, mas mantinha uma relação de cuidado e amor com a mesma.
O Verbo da vida era aquele que do nada trouxe tudo à existência. O “nada” não era uma substância primordial a partir da qual as coisas foram criadas, mas a completa inexistência. O universo foi criado, ao contrário dele que é eterno. Somente um Deus assim, poderia criar todas as coisas e manter uma relação de intimidade com a criação. Ele deu vida, porque é o autor da vida. João vai mostrar essa vida em ação, que é capaz de trazer à existência o que não era e que agora se manifesta mantendo a vida, não só física, mas espiritual. Ele transforma (água em vinho), age na criação (controla a natureza), dá nova vida pela palavra (Nicodemos, Lázaro, filho do oficial). O Verbo encarnado dá sentido e cores à vida. Jesus vai estar em ação, como a Palavra de Deus que adquiriu forma humana para manter um relacionamento íntimo com a criação e completar o plano de redenção para ela. O Verbo está em ação.