“Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (João 17:1)
A qualidade de entender com facilidade o que a maioria das pessoas acha difícil perceber é atribuída a alguém que é chamado de perspicaz. Assim era Jesus, pois Ele sabia exatamente distinguir o seu tempo. Por várias vezes neste evangelho, João mostra Jesus como sabedor de seu tempo, com Jesus afirmando que sua hora ainda não havia chegado. A urgência do tempo lhe mostra agora que tudo o que fez culminou com o que se apresenta e não dá mais para retroceder. Mas não há lamento! Antes, aquele que se fará vítima é ao mesmo tempo aquele que intercede e a seu tempo receberá toda a glória que lhe é devida.
Jesus conhece muito bem quem inspirou os escritores das sagradas letras e, assim, concorda com o sábio que diz que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3:1). Seu tempo chegou e Ele sai agora da conversa direta com seus discípulos e se dirige ao Pai. É interessante a forma como Jesus se expressa, pois usa o tempo verbal no passado dando a ideia de algo que já aconteceu e Ele se apresenta como sujeito passivo nesta questão do tempo que é chegado. É como Ele já falou antes, o Pai sabe e
determina todas as coisas. Mas, que hora é chegada?
É chegada a hora da glorificação do Filho no Pai e do Pai no Filho. Entretanto, é bom que se tenha em mente que, de fato, esta glorificação se dará apenas com a iminente cruz. Mas Jesus considera a cruz como algo já concretizado, pois não há outro meio de glorificação se não for por essa via. Lembrei-me de um filme do final da década de 1980, dirigido pelo cineasta Martin Scorsese, a “Última tentação de Cristo”, onde neste filme Jesus é retrato como um homem dividido entre seus desejos humanos e o conhecimento de Deus, e quando “chega a hora” de fazer o que lhe era cabido, ele titubeia e abandona a cruz. Se o cineasta ou o romancista no qual o filme se baseia tivessem entendimento do que está aqui neste capítulo de João, este filme nunca teria ido ao ar. Jesus tem de passar pela cruz e já considera isso como algo concretizado, do qual Ele não pode fugir. Além disso, a cruz é caminho só de ida. Portanto, quando Jesus diz que devemos tomar nossa cruz e segui-lo, o faz considerando que aquele que põe a mão no arado não pode mais olhar para trás, não há porque retroceder.
Assim, a ideia de tempo chegado para a realização da obra que Deus lhe incumbiu fazer passa por sua mente como completada e pede ao Pai que a glorificação pela cruz venha de forma completa. Jesus diz que já houve esta glorificação de alguma forma, através de sua própria vida, pela obra que Ele já fez. O seu ministério é objeto de glorificação do Pai e dEle mesmo, pois os discípulos creram que Jesus veio do Pai. Mais que isso, Jesus é também glorificado na vida dos seus discípulos. Isto não vale só para aqueles discípulos, vale para nós hoje. Nossas vidas precisam glorificar a Cristo, quem nós somos e o que realizamos. Este é nosso desafio diário, uma luta diária e contínua, cumprindo o fim supremo do homem, glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
Portanto, glorificar a Deus é uma evidência de nosso interesse em Cristo, e vice-versa. O tempo desta glorificação já é chegado. Somos passivos quanto a chegada do tempo, mas ativos quanto ao ato da glorificação. Entender nosso tempo e o que ele nos custa é nosso desafio, pois assim estaremos aptos a glorificar a Cristo em nossas vidas. O que fazemos e o que somos deve, obrigatoriamente, caminhar na direção da glorificação de Cristo, pois o que nos cabe receber está guardado para o momento certo, quando seremos nós, sim, glorificados. Amém!