A transição do ensino médio para a faculdade é uma das fases mais desafiadoras da juventude. Para o jovem cristão, esse período não se limita à adaptação acadêmica, mas também implica manter uma identidade espiritual firme diante de ideologias diversas, novas amizades, questionamentos filosóficos e a liberdade moral que o ambiente universitário proporciona. A educação cristã, portanto, tem o papel vital de preparar emocional, teológica e intelectualmente esses jovens para não apenas resistir, mas influenciarem positivamente esse novo ambiente.
A Geração Z, majoritária nas universidades atuais, valoriza a autenticidade, a rapidez das informações e o pensamento crítico. Como observa Souza et al. (2022), “A Geração Z, exposta à tecnologia, demonstra expectativa de uso de ferramentas tecnológicas e de aprendizagem que aproximem teoria e prática” (p. 438). Essa busca por significado também se reflete em sua relação com a fé: eles não querem dogmas prontos, mas um cristianismo coerente, que suporte o ceticismo e dialogue com a ciência e com as dores do mundo.
Nesse sentido, Tim Keller (2009) destaca que “A fé cristã é muito mais do que um conjunto de crenças; é um caminho para a plenitude da vida que toca todas as dimensões da existência humana” (p. 25). A universidade não pode ser vista como uma ameaça, mas como espaço missionário. Jovens precisam aprender a praticar apologética, cultivar pensamento crítico com base bíblica e manter um testemunho coerente em sala de aula, nos corredores e nas redes sociais.
O exemplo de Timóteo, mencionado por Paulo em 2Tm 4.2, “[…] prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, […]”, é uma direção para a vida universitária. Jovens precisam ser instruídos a conhecer profundamente as Escrituras e aplicá-las em contextos de debate, sem agressividade, mas com convicção e amor.
A conexão com grupos cristãos universitários, igrejas locais e mentores é fundamental. Benson, Roehlkepartain e Hong (2006) enfatizam a importância de relações significativas com adultos e pares como ponto de conexão vital para a permanência da fé. Os universitários precisam de espaços para pertencer, expressar sua espiritualidade, fazer perguntas e ser ouvidos com respeito. A educação cristã deve oferecer esse suporte através de ministérios intencionais de acompanhamento e integração.
Outra dimensão essencial é o serviço. A fé não pode se tornar teoria religiosa. A juventude atual busca “uma fé que se exteriorize em ações concretas” (FARIAS, 2019, p. 88). Projetos sociais universitários, voluntariado, liderança em causas comunitárias e defesa de princípios cristãos são formas de manter a espiritualidade relevante. Tito foi instruído por Paulo: “Que a tua conduta seja exemplar em tudo; […]” (Tt 2.7). A prática da fé gera testemunho visível e legado duradouro.
Por fim, é preciso cuidar da saúde emocional. A pressão acadêmica pode gerar ansiedade, isolamento e esgotamento. A orientação pastoral deve incluir o cuidado com o descanso, a oração, a atividade física e, se necessário, o acompanhamento psicológico. Como lembra Gary Chapman (1992), “O amor genuíno sempre buscará a compreensão do outro e agirá de forma a suprir suas necessidades emocionais” (p. 34). A educação cristã deve formar jovens fortes, mas também sensíveis ao cuidado consigo e com o próximo.
Bibliografia:
BENSON, Peter L.; ROEHLKEPARTAIN, Eugene C.; HONG, Linda S. The Complete Book of Youth Ministry. Zondervan, 2006.
CHAPMAN, Gary. As Cinco Linguagens do Amor. São Paulo: Mundo Cristão, 1992.
FARIAS, Lúcia. Juventude Brasileira e Religião. Religião & Sociedade, v. 39, n. 1, p. 75-92, 2019.
KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo. São Paulo: Vida Nova, 2009.
SILVA, Patrícia A.; MENDES, Roberto C. Saúde Mental e a Geração Z. Revista Psicopedagogia, v. 38, n. 117, 2021.
SOUZA, Rosana S. de et al. As ferramentas de aprendizagem preferidas da geração Z. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 103, n. 264, p. 430-449, 2022.