Com relação ao programa de Educação Cristã, começo desmistificando algumas ideias presentes no imaginário religioso. É sabido que “olhares e cenários” sobre a Educação Cristã, como algo que envolve muito mais que programas e projetos, formas instituídas do saber fazer, para propor um contraponto, ou seja, uma Educação Cristã mais dialógica, relacional, colaborativa e integral; a fim de aprender a pensar sobre a natureza e finalidade da própria Educação Cristã para o homem, a igreja e o próprio educador cristão. Ou seja, sua MISSÃO!
Diante dessa realidade, pondera-se: Qual o sentido de ensinar o homem a aprender e a pensar sobre os planos de Deus para a sua vida atualmente? Quando a realidade exige um olhar para um tempo, ou cenários de incertezas e enormes complexidades; mas quando nós esquecermos que temos a Palavra de Deus vivenciamos um cenário tenebroso. Lembre-se, ainda não é o fim dos tempos.
A sensação de incertezas e de imprevisibilidade são circunstanciais, enquanto a Palavra de Deus é permanente. Concordo com Tom Sine quando afirma que, “cada vez mais nos acharemos disputando não só com transformações globais crescentes, mas também com um sistema de valores que muitas vezes tromba de frente com os valores do evangelho de Cristo”. (p.24) Lembre-se que “mudar só por mudar não é sério, nem o caminho”. Olhares se constrói com o DNA – algo que “carrega toda informação genética de um organismo”. Pastor e educador cristão – fomos criados pela Palavra. Retomando, dizer que muitas vezes o foco de nossas reflexões recai sobre planos, programas e método ou metodologia mais descritivas e qualitativas, recursos didáticos como a revista, ou seja, a forma, o que é aparente, instituído, ao invés de cuidarmos do que é a essência, da Palavra interpretada, porque fomos criados pela Palavra.
De fato, lidamos com cenários imprevisíveis como vimos anteriormente, de modo que capacitar liderança no campo pastoral e da Educação Cristã para lidar com situações adversas tornou-se um enorme desafio para a Educação Cristã do amanhã, mas sobre isso vamos tratar depois.
Como se percebe, o fato é que, “é preciso caminhar”, cabendo ao pastor e ao educador cristão entender as características do seu tempo vivido, olhar para cenários que impõe algumas exigências que aglutinam habilidades, valores e saber-se e fazer etc., ou seja, envolve a permanente produção de olhares e cenários sobre questões de difícil compreensão por parte do homem sobre principalmente os desígnios de Deus para a humanidade.
Tais questões a décadas afligem a todos nós, pais, pastores e educadores – que somos confrontados dia a dia, isso exige que sejamos pastores e educadores reflexivos e pesquisadores. Diria da necessidade de acentuar a primazia do conteúdo bíblico no seu embate com a realidade social dos sujeitos envolvidos com a gestão e organização do ministério de Educação Cristã e o processo ensino aprendizagem. No I Encontro de pastores e educadores cristãos pôr em discussão algumas ideias, como a natureza e finalidade da Educação Cristã desenvolvida para esse tempo presente, mas isso farei quando estiver falando sobre “novas” perspectivas para Educação Cristã.
Reconheço que quando o “Programa” de Educação Cristã que não objetiva “transformação”, ou seja, esse convencimento, é porque algo está errado; desse modo não é possível alcançar as pessoas ou grupos de pessoas diferentes, com preferencias e cosmovisões distintas de pessoas iguais ou diferentes de nós. Uma Educação Cristã que falha a partir do púlpito de nossas igrejas atualmente, da letra das músicas que cantamos.
Quanto ao saber bíblico, é institucionalizado, temporal (limitado ao tempo), espacial (limitado ao espaço físico, muitas vezes inadequado), dominical, presencial e seletivo, é possível que não esteja voltado para a realidade das pessoas, como resultado do diálogo, relacionamento e compartilhamento entre as pessoas, ou até mesmo nos modos de relacionamento com as coisas e com as pessoas respectivamente. Estamos inseridos em contextos em que os relacionamentos são efêmeros, ou seja, falta de afetividade. Hoje, com o ensino remoto, emergencial, fomos forçados a migrar para os ambientes imersivos da TDICs.
Você já imaginou que isso pode estar afastando as pessoas da igreja? As pessoas têm cada vez menos tempo para a família, para a igreja e especialmente para Deus. A Educação Cristã tem que dar conta desta realidade a partir do multiministerial da igreja. A Educação Cristã tem que olhar primeiramente para a pessoa, suas necessidades, interesses, motivos e motivações, mas sem perder de vista a necessidade de salvação. Pondera-se: esse modelo de “Educação Cristã que temos pode transformar a sociedade?” As pessoas? O que estamos fazendo para mudar, mesmo que isso não se trata de mudar tudo? Toda Educação Cristã é transformadora por natureza e missão?
Não estou pensando em uma mudança apenas pessoal e social, mas sobretudo espiritual, holística, integral. Estamos inseridos num modo de vida altamente pessoal, interrelacional e dinâmico e a Educação Cristã precisa pensar sobre isso. Mas esse discipulado demanda tempo e dedicação, não se constrói relacionamentos saudáveis “da noite para o dia”.
Precisamos aprender a pensar que um programa de Educação Cristã se faz com um excelente currículo de matérias com fundamentação bíblico-teológica que inclui a cristologia, missiologia, eclesiologia e disciplinas de cunho doutrinário, mas que considere o perfil de sujeito que está formando. Uma matriz curricular interdisciplinar, cristocêntrica e bibliocêntrica, mas que dialogue com outros campos do conhecimento deve ter nas Escrituras o seu referencial fundante e basilar.
Reconheço que configurar um programa de Educação Cristã a nível nacional (macro), estadual (meso) ou local (micro) constitui-se um dos grandes desafios para a igreja. A primeira metade do século XXI nos convoca a celebração e uma aposta no futuro da Educação Cristã, uma cultura de convergência de olhares sobre a realidade de cenários múltiplos e diferentes.
Construir projetos e programas de Educação Cristã não é tarefa de especialistas, “tecnocratas” do ensino, mas um esforço coletivo de toda a igreja. Caberá a liderança formar uma ideia das prioridades e da cultura organizacional da igreja.
Eugene H. Peterson (2009, p.11) afirma que “os caminhos empregados em nossa cultura ocidental são eminentemente impessoais: programas, organizações, técnicas, normas de procedimento, informações fora de contexto”. Diria que nossas organizações sociais tais como família, igreja, escola e universidade estão renunciando olhar para seus semelhantes, para o outro, para uma educação humanizadora.
Acredito que os cenários apontam para a diversidade de planos e programas, para novos processos de aprender e ensinar a Palavra de Deus, mas sem perder de vista o outro, o próximo. Segundo alguns especialistas, “o problema enfrentado pelas igrejas na atualidade não será resolvido pela mera imitação de modelos bem-sucedidos em outros contextos”. (p.14)
Com isso estou entendendo que sou contrário a determinados “modelos” ou “pacotes” transplantados de outras realidades, sou favorável a modelos diferenciados, mais flexíveis. Muitas vezes se propõe modelos para as igrejas, mas falta pessoal preparado para construir, executar e avaliar. O maior obstáculo torna-se técnico e comportamental, “queremos fazer, mas como?” Recomendamos que se comece por uma autoavaliação. O projeto e processo educativo inicia-se com a autoavaliação, parte integrante de construção de um projeto de Educação Cristã.
REFERÊNCIAS
DELORS, Jacques.(Coord.) Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 7 ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2012.
FAVA, Rui. Educação 3.0. 1 ed. aplicando o PDCA nas instituições de ensino. São Paulo: Saraiva, 2014.
JARAUTA, Beatriz; IMBERNÓN, Francisco. Pensando no futuro da educação. Uma nova escola para o século XXII. Porto Alegre: Penso, 2015.
LITTLEJOHN, Robert; EVANS, Charles T. Sabedoria & Eloquência. Um modelo cristão para o ensino clássico. São Paulo: Trinitas, 2020.
MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
PETERSON, Eugene H. O caminho de Jesus e os atalhos da igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. (Série – Teologia Espiritual)
SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
STETZER, Ed; PUTMAN, David. Desvendando o código missional. Tornando-se uma igreja missionária na comunidade. São Paulo: Vida Nova, 2018.
TAVARES, José. O poder mágico de conhecer e aprender. Brasília: Liber Livro, 2011.
THIESEN, Juares da Silva. O futuro da educação. Contribuições da gestão do conhecimento. Campinas: Papirus, 2011.