Antes de entrar propriamente dito neste subtema, quero fazer ainda algumas considerações ainda que considere importantes para a nossa reflexão. Para dizer primeiramente que, pastores e educadores cristãos devem estar focados no serviço cristão e na fidelidade à Grande Comissão de Jesus Cristo que, “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o final dos tempos.” (Mt. 28.18-20).
Em segundo, ambos são cooperadores do Reino de Deus, pessoas que tem contribuído grandemente para o ministério do ensino, da evangelização e do discipulado, bem como da pregação e da música proclamando assim, o Evangelho seja no contexto da família, da igreja ou no trabalho/vida secular. Nossa assertiva parte em tese da ideia de que o ensino da Palavra esteja tanto sob a responsabilidade do pastor como do educador cristão e presente no processo de evangelização, pregação e da música. C.S. Lewis, disse que “É muito fácil pensar que a igreja tem muitos objetivos diferentes – educação, obras, missões, cultos… A igreja não existe para outro propósito senão atrair os homens para Cristo, transformá-los em miniaturas de Cristo. Se ela não faz isso, então todas as catedrais, todos os líderes, todas as missões, todos os sermões, a própria Bíblia – tudo não passa de perda de tempo”.
E terceiro e último, dizer que todos nós temos o compromisso com o desenvolvimento integral, físico, espiritual e moral das pessoas no cenário societal em transformação. Esse é sem dúvida um outro grande desafio para o pastor e o educador cristão em nível pessoal precisa pensar, isto é, não ter a vida “dividida” entre fé (ortodoxia) e a prática (ortopraxia). Eles precisam ter uma vida integrada com os princípios da Palavra de Deus, assumir com responsabilidade seu papel pastoral e de educador cristão, ou seja, ministerial e as decisões necessárias para o desenvolvimento integral das pessoas.
Com certeza esse foi o principal motivo e motivação em compartilhar algo que parte da paixão de aprender a pensar. Um chamamento para temas tão importantes que dizem respeito a nossa responsabilidade para com a formação de gerações futuras, dos “educadores do amanhã”, que o pastor e o educador cristão não poderão deixar de lado, mas assumi-los desde uma perspectiva ativa e cristã, promovendo seu conhecimento e sua discussão. Vamos aprender a olhar o ministerial pastoral e de educação cristã em um cenário em que haverá menos espaço para o currículo oculto.
Com relação ao “pensamento pós-moderno”, eu não estou convencido de que nosso tempo seja marcado por uma ruptura com a modernidade, de modo que, ao abordar o tema “olhares e cenários”: “A educação cristã do amanhã”, “não há uma preocupação em delimitar, ou seja, demarcar determinado período histórico, ainda que em alguns momentos isso seja necessário, nem abordar o tema na perspectiva da pós-modernidade.
Reconheço que precisamos considerar a trajetória vivida pelos sujeitos envolvidos com a educação cristã, seu senso de pertencimento e de oportunidade, algo que exige “tempo”, paciência e persistência. Somos sujeitos de uma história que se faz com a memória de tantos pastores e educadores cristãos espalhados por esse País. História e memória de pessoas que construíram o olhar atento, reflexivo e diferenciado sobre o objeto de estudo da educação cristã, algo que exige um pensar do escrito, do dito e do não dito.
Para exemplificar, eu compartilho com vocês algo que me chamou atenção! O homem tem sua vida dependente de dois tipos de cuidados essenciais: saúde e educação. O filósofo Heidegger, em seu livro “O ser e o tempo”, alude a esta dependência através de uma alegoria mítica, em que três personagens Terra, Céu e Cuidado concorrem cooperativamente para dar origem ao homem. O Cuidado, passeando ao acaso, tomou uma porção de Terra e pediu ao Céu que lhe insuflasse espírito de vida. Causou, porém, uma disputa entre a Terra e o Céu, quando quis dar um nome a sua criatura, porque tanto a Terra quanto o Céu reivindicavam maiores direitos sobre o homem. Foi preciso que outra entidade mítica, o Tempo, fosse chamada, para que se pusesse fim à disputa. A solução ministrada pelo Tempo foi que a criatura deveria chamar-se “homem”, de húmus, terra. Quando morresse, sua alma iria para o Céu, enquanto o corpo voltaria para a Terra. Mas, durante sua vida, precisaria depender permanentemente do cuidado.
Na verdade, ao pensar sobre “olhares e cenários”, estamos em busca do sentido e do significado da Educação Cristã, mesmo que para isso tenhamos que revisitar a história a fim de reconstruir a história da Educação Cristã, da sua identidade (questão ontológica – ser ou tornar-se) dos sujeitos da Educação Cristã.
A luz da Palavra de Deus, sua revelação o olhar é profético e escatológico, ou seja, realizado sob inspiração divina. Com o pastor e o educador não é diferente, ao manusear a Palavra de Deus, depender da iluminação e total dependência do Espírito Santo. O próprio Jesus capacita-o com autoridade-divina-humana. Imagino que, isso é o que faz diferença no ministério e na prática educativa de todo pastor e educador cristão, ou seja, consciência da presença divina, dependência do Espírito Santo e a autoridade dada por Jesus Cristo.
Posso afirmar que o pastor e o educador cristão foram colocados no contexto da igreja por um propósito divino, com uma missão e o dom dado por Deus. A igreja é uma comunidade que deve se apresentar para a sociedade como prova do amor e do projeto de Deus. Somos pessoas transformadas pelo poder do Espírito Santo.
Creio que o pastor e o educador são imbuídos desta autoridade. Na Bíblia temos educadores a exemplo da figura do patriarca (pai), do sacerdote e do profeta (mediador), pessoas que conhecem o Deus da Palavra; assim como os apóstolos, o evangelista e o missionário incumbidos da proclamação.
Na história da igreja cristã, a reforma protestante – século XVI, o mestre sempre se colocou na brecha, no cumprimento de um propósito divino. Para dizer que a figura do pastor e do educador cristão pelo menos na perspectiva bíblica é de fundamental importância para compreender a ação educativa de Deus na vida e história de vida do homem.
A educação de um modo geral e, a educação cristã em particular, é uma atividade intencional, objetiva e metódica, modalidade não formal, que deveria partir de uma realidade situada historicamente dos sujeitos envolvidos no processo de gestão e organização e do ensino aprendizagem, isto é, da ação de sujeitos concretos, mas sobretudo ação divina sobre a vida desses sujeitos.
Nossa prática educativa cristã e pastoral é por natureza, transformadora e coletiva, configura-se na autoridade e prática na Palavra, em bases sólidas e consistentes e, sobre os quais sedimenta-se o plano redentor e propósito de Deus para o homem em todos os tempos. Continua no próximo blog.
REFERÊNCIAS
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